
20/05/2019
Manhã de verão, março de 2019. Uma suçuarana caminha prazerosamente por uma trilha do Parque Estadual Intervales e, em um movimento familiar para qualquer pessoa que conviva com gatos, aproveita um par de galhos secos atravessados sobre a trilha para dar uma coçada nas orelhas. No mesmo local, no dia seguinte, uma onça pintada faz uma investigação olfativa detalhada dos mesmos galhinhos antes de chegar a uma conclusão depreciativa sobre o passante anterior, derrubar um deles com uma narigada e seguir em frente.
Manhã de verão, março de 2019. Uma suçuarana caminha prazerosamente por uma trilha do Parque Estadual Intervales e, em um movimento familiar para qualquer pessoa que conviva com gatos, aproveita um par de galhos secos atravessados sobre a trilha para dar uma coçada nas orelhas. No mesmo local, no dia seguinte, uma onça pintada faz uma investigação olfativa detalhada dos mesmos galhinhos antes de chegar a uma conclusão depreciativa sobre o passante anterior, derrubar um deles com uma narigada e seguir em frente.
Os vídeos foram registrados pelo projeto “Onças da região do Vale do Ribeira e do Alto Paranapanema”, coordenado pela pesquisadora de mastofauna Beatriz Beisiegel, em parceria com a Fundação Florestal e o Instituto Florestal. O projeto monitora há mais de dez anos as onças do Mosaico de Paranapiacaba, já tendo identificado treze onças pintadas e realizado a identificação parcial de outras sete a treze. Graças a estas identificações, podemos especular sobre a razão da curiosidade da onça pintada: trata-se de um animal novo na área, investigando, naquele galhinhos, a identidade dos outros grandes felinos com os quais conviverá. A sensação de paz transmitida pelo comportamento de ambas as felinas não é acidental; o local onde os registros foram feitos é uma das áreas mais importantes para a sobrevivência das onças pintadas em toda a Mata Atlântica. A espécie está criticamente em perigo de extinção nesse bioma, com apenas três populações com possibilidades de sobreviver a longo prazo. O Mosaico de Paranapiacaba, composto pelos Parques Estaduais Carlos Botelho, Intervales, Nascentes do Paranapanema, PETAR e Estação Ecológica de Xitué, além das florestas adjacentes a este Mosaico, é a área-núcleo de uma destas três populações. Os dados coletados pelo projeto permitiram estimar que a população de onças pintadas nesta área é de apenas 9 a 35 animais. A pesquisa também constatou que cada uma das onças pode usar toda a extensão do Mosaico, além de florestas do entorno. Estes resultados enfatizam a necessidade de planejamento da proteção do Mosaico e do contínuo florestal com um todo.
Este é um dos poucos projetos que acompanham, a longo prazo, uma população de onças pintadas na Mata Atlântica, trazendo dados fundamentais sobre o uso das UCs ao longo dos anos por vários indivíduos, necessários para descrever a demografia da espécie e apontar áreas críticas para a sobrevivência das onças pintadas. O projeto também atua, sob demanda, junto a comunidades do entorno e interior das UCs a fim de prevenir e mitigar conflitos entre estas e os grandes felinos e sensibilizá-las para a importância das onças.