01/07/2019

As Áreas Protegidas são espaços escolhidos para cumprir determinada função social. A especificidade de cada área define como ela pode melhor atender à sociedade. Por exemplo, algumas são essenciais para o abastecimento de água, outras são o último refúgio de espécies ameaçadas de extinção. E, por sua importância, essas áreas são protegidas por Lei.

As Áreas Protegidas são espaços escolhidos para cumprir determinada função social. A especificidade de cada área define como ela pode melhor atender à sociedade. Por exemplo, algumas são essenciais para o abastecimento de água, outras são o último refúgio de espécies ameaçadas de extinção. E, por sua importância, essas áreas são protegidas por Lei.

 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído em 2000, é a lei federal que assegura a proteção dessas áreas. Esta Lei estabelece as normas para a criação de novas Unidades de Conservação da Natureza (UCs) e para a gestão daquelas que já existem.

 O SNUC estabelece que cada uma dessas áreas deve ter um Plano de Manejo, que nada mais é do que um documento técnico que orienta o que pode e o que não pode ser feito na UC, bem como as ações prioritárias a serem realizadas. Elaborado em conjunto por técnicos e pesquisadores científicos de diferentes áreas do conhecimento, são realizados levantamentos de informações sobre a vegetação, a fauna, o relevo, os tipos de solo, os corpos d’água, a história do local etc. Ao final, o Plano de Manejo determina se a Unidade de Conservação deverá ter sua vegetação restaurada, por exemplo, ou se é preciso que tenha um acesso extremamente restrito para a preservação das espécies que ali habitam. 

Algumas categorias de Áreas Protegidas não estão contempladas no SNUC, como as Estações Experimentais, que são grandes laboratórios ao ar livre com vocação para a pesquisa científica. O Instituto Florestal, órgão de vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA), congrega entre suas atribuições tanto a gestão de algumas Áreas Protegidas, como a pesquisa científica que é realizada no interior delas. E as pesquisas são diversas, tanto voltadas ao voltadas ao desenvolvimento socioeconômico quanto à conservação da natureza: melhoramento genético, aperfeiçoamento da produção de madeira e resina, pesquisa com sementes e mudas, hidrologia florestal, ecologia vegetal, comportamento de animais silvestres, geoprocessamento, entre outras. 

 E todas essas pesquisas científicas precisam chegar na sociedade, sejam os diversos setores que se relacionam com a área, os órgãos públicos e a sociedade civil. A maneira mais tradicional para a divulgação científica é através de publicações, fóruns ou encontros. No entanto, esse tipo de divulgação fica muito distante da população, especialmente a comunidade que vive no entorno ou dentro da própria área. É por isso que também são criados meios para que o que se produz de conhecimento nas UCs também chegue na população. 

E quando falamos sobre sociedade, a divulgação científica não deve ser apenas uma transferência de conhecimento unidirecional, mas um exercício de diálogo que possibilite a troca de saberes e a transformação da realidade. Seu objetivo é, através do embasamento científico, possibilitar o empoderamento e estimular a participação das comunidades no processo democrático, para possam se posicionar sobre as questões que impactam diretamente no seu dia-a-dia. 

Um dos slogans mais utilizados em campanhas, projetos e divulgações relacionadas a questões ambientais é “Conhecer para preservar”. Apesar de se tornar quase um clichê, tanto as Áreas Protegidas quanto a própria produção de ciência compartilham desta lógica. Se as pessoas não tiverem conhecimento sobre a importância de uma determinada área natural, da relação dos ecossistemas com o ar que respiramos ou a água que bebemos, não irão se mobilizar mesmo que estas áreas estejam ameaçadas. Assim, o propósito da divulgação científica é compartilhar ferramentas para que a população se aproprie dos seus espaços e tenha uma participação mais efetiva nas tomadas de decisão.

 

 Como chegamos na população

 De acordo com a particularidade de cada Área Protegida, o regime para o acesso da população varia de uma para outra. Algumas, por sua vulnerabilidade, são incompatíveis com o lazer, recebendo apenas pesquisadores científicos ou estudantes. Outras, por sua história, têm comunidades tradicionais que vivem em seu interior, como indígenas, quilombolas, caiçaras, caipiras e ribeirinhos. E muitas outras são abertas à visitação pública. Estas, que possuem áreas de Uso Público, são o melhor local para a realização de uma divulgação científica efetiva e democrática nas Áreas Protegidas. É ali onde o Instituto Florestal pode mostrar à população de um modo mais amplo o conhecimento que é produzido na instituição.

Neste sentido, o Museu Florestal Octávio Vecchi é um exemplo histórico. Está localizado na área visitação do Parque Estadual Alberto Löfgren, também conhecido como Horto Florestal, na zona norte da capital paulista. Foi inaugurado na década de 1930 e surgiu como um espaço que era ao mesmo tempo laboratório de pesquisa e espaço de divulgação da produção científica da instituição (à época Serviço Florestal) para o público geral.

Nas décadas seguintes a sua criação, o Museu realizou sessões de cinema com exibições de filmes sobre Meio Ambiente, realizou exposições de suas obras dentro e fora de seu espaço, conferências e palestras, recebeu estudantes dos mais diversos níveis, bem como profissionais das mais diversas áreas e o público geral.

Caminhada histórica no Horto Florestal

Uma das atividades promovidas atualmente pelo Museu em conjunto com diversos parceiros, como a Coordenadoria de Parques e Parcerias da SIMA e o Movimento Conservatio, são as Caminhadas Históricas. Nestes eventos, que ocorrem desde 2018, a equipe faz um tour pelo Horto, Unidade de Conservação que tem uma posição marcante na construção das ideias ambientais no estado de São Paulo. Aos participantes são narradas curiosidades sobre os prédios históricos, as personalidades que passaram por ali e as espécies que vivem no Parque. Tudo isso mesclando falas mais técnicas a abordagens mais lúdicas, como músicas e contação de histórias. Como a Caminhada traz a participação de muitos moradores do entorno, alguns até funcionários aposentados das instituições ali sediadas, eles também contam o que sabem e contribuem com a construção deste conhecimento. 

 O contato olho no olho ainda é uma das formas mais importantes de se comunicar com o público. Mas não podemos deixar de lado a atuação virtual. Nos dias de hoje, as plataformas online estão cada vez mais presentes na vida de um número maior de pessoas.  Desprezar sua relevância é optar por não atingir talvez a maior parcela da população. Por isso, é importante que as instituições de pesquisa e os divulgadores de ciência estejam atentos às dinâmicas das redes sociais.

No caso das Áreas Protegidas, certamente o principal objetivo, quando permitido no Plano de Manejo, é que a população visite a unidade, sinta o cheiro das plantas e a textura da terra, ouça os sons dos animais e aprecie a beleza cênica no local. Mas se por vezes é difícil trazer o visitante à floresta, e pela internet podemos levar a floresta ao visitante. As redes sociais e os sites do Instituto Florestal permitem que as pessoas dos mais diferentes cantos do país e do mundo possam ler textos sobre as características das Áreas Protegidas, vejam fotografias e assistam a vídeos sobre a fauna e a flora do local, se relacionando com a unidade em um grau diferente de interatividade. Uma experiência que não é nem melhor e nem pior do que a visita física, mas complementar.

 

Dica de Leitura:

Se quiser mergulhar no universo da divulgação científica, acesse o link do e-book ComCiência e Divulgação Científica. Publicado em 2018 pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade de Campinas (Unicamp), o livro traz uma reflexão bastante atual de diversos especialistas no tema.

 

Texto: Paulo Andreetto de Muzio – Instituto Florestal

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