11/12/2019

A Educação Ambiental pode ser definida como: todos os processos permanentes de aprendizagem e formação - individual e coletiva - que têm como objetivo promover a reflexão e construção de valores, saberes, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências para melhoria da qualidade da vida e para uma relação sustentável da sociedade humana com o ambiente que integra (Política Estadual de Educação Ambiental, Lei Estadual nº 12.780/2007). A relação sustentável com o meio ambiente implica em mudanças de paradigmas e no modelo de desenvolvimento que adotamos hoje, baseado em consumo de produtos, recursos naturais e acesso desigual a estes para atender às necessidades humanas. As consequências de um modo de vida baseado no consumo não responsável atingem não apenas seres humanos, mas todos os seres vivos, afetando as relações ecológicas entre eles. No entanto, a percepção da importância de agirmos individual e coletivamente para que não sejam prejudicadas diversas espécies de plantas e animais pode ainda não fazer sentido para muitas pessoas - e trabalhar na formação dessa percepção é um grande desafio para a educação ambiental. Uma estratégia para essa compreensão é esclarecer que, para além de aspectos diretamente relacionados à proteção da biodiversidade, as consequências dos impactos ambientais decorrentes de ações como a modificação da paisagem pela ocupação de áreas naturais, urbanização sem planejamento e emissão de gases de efeito estufa, repercutem também na qualidade de vida e na saúde do próprio ser humano. Alguns efeitos nocivos da degradação ambiental para a nossa saúde são mais perceptíveis, como a poluição do ar nos centros urbanos, a falta de tratamento de esgotos e áreas contaminadas por produtos químicos. Mas há outros exemplos de impactos para a saúde humana como consequência de impactos ambientais, como é o caso da transmissão de arboviroses. São denominadas arboviroses as doenças que tem artrópodes como vetores - ou seja, aquelas que são transmitidas por insetos (os pernilongos, por exemplo) ou aracnídeos (escorpiões e carrapatos). Como as condições do ambiente contribuem para disseminação de doenças? Febre maculosa - por meio da picada do carrapato estrela, pode ser transmitida uma bactéria que causa essa doença. O maior reservatório natural do carrapato estrela são as capivaras. Essa bactéria, chamada de riquétsia, pode viver nas capivaras e em outros animais silvestres. Uma vez que o carrapato ficar infectado com a bactéria e picar um humano (ficando aderido por ao menos 4 horas), a doença pode ser transmitida. As capivaras são grandes roedores que vivem próximo a áreas alagadas. Com a mudança no uso do solo pela urbanização e utilização para cultivos agrícolas, há perda de habitat natural para esses animais, que acabam encontrando nesse ambiente modificado condições propícias para sobreviver e conviver com moradores de áreas rurais, aumentando as chances de transmissão da doença. Um fator agravante é que as capivaras são animais de rápido ciclo reprodutivo e, com a diminuição das áreas de mata, seus predadores naturais, como a onça parda, também são afetados. Sem predadores, não há controle do número de indivíduos, e o maior número de capivaras aumenta a quantidade de carrapato-estrela e aumentam as chances de transmissão da doença. Leishmaniose - essa doença é transmitida pela picada do mosquito-palha. As mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização também influenciam no estabelecimento desse vetor nas áreas rurais e urbanas. O acúmulo de resíduos sólidos, especialmente de matéria orgânica, fornece locais propícios para completar o ciclo de vida desses mosquitos, pois locais úmidos e escuros, compostos por folhas e fezes de animais são ideais para alimentar as larvas do mosquito palha. Dengue, Zyka e Chikungunya - o acúmulo de resíduos sólidos nos meios rurais e urbanos também tem enorme contribuição para a propagação dessas doenças, transmitidas pelo mosquito Aedes aegipty. Para depositar seus ovos, as fêmeas procuram locais propícios a acumularem água e, em contato com a água, esses ovos eclodem. Embalagens, entulho e pneus descartados e/ou armazenados inadequadamente podem facilmente se tornar criadouros e contribuir para a disseminação do mosquito e aumentos na transmissão dessas arboviroses. Além disso, em períodos de seca, a população pode armazenar água de maneira inadequada, como em recipientes sem tampa ou redes de proteção, também oferecendo espaços propícios à deposição de ovos pelas fêmeas. Com as mudanças climáticas, situações como estas já estão se intensificando. Sala de Situação de Controle das Arboviroses Essas questões são discutidas na Sala de Situação de Controle das Arboviroses, um grupo de trabalho do governo do Estado de São Paulo composto por técnicos de várias Secretarias - Secretarias da Saúde, Educação, Infraestrutura e Meio Ambiente, Defesa Civil, COSEMS (Conselho dos Secretários Municipais de Saúde) e Ministério da Saúde, com objetivo de monitorar a situação epidemiológica das arboviroses e discutir e propor ações para serem implementadas para atuar na prevenção e combate dessas doenças, com destaque para ações de educação ambiental envolvendo a mobilização e participação da população. Desde 2012, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente faz parte desse grupo, atualmente representada pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental, e essa aproximação entre as áreas responsáveis pela gestão da saúde pública e gestão do meio ambiente tem desenvolvido uma política pública para que os técnicos dessas pastas atuem com olhar integrado para a saúde humana e para a saúde do ambiente. Destacam-se como ações desse trabalho integrado: Realização de encontros e workshops - com representantes da Secretaria de Estado da Saúde e técnicos das Agências Ambientais da Cetesb, para incorporação da investigação de criadouros do Aedes aegypti nas vistorias em empresas. Reuniões técnicas sobre logística reversa de pneus - apresentando a importância da exigência pelos órgãos licenciadores de uma estrutura adequada para armazenamento nas centrais de transbordo, como locais cobertos, para evitar o acúmulo de água. Bate-papo on line - com representantes da SUCEN e Vigilância Sanitária para falar sobre a relação entre saúde e meio ambiente e compreender o ciclo de vida do Aedes aegypti e as medidas para controlar a população desses mosquitos e prevenir as arboviroses transmitidas por eles. Clique aqui para assistir. Desenvolver e implementar políticas públicas considerando um olhar mais abrangente sobre meio ambiente, integrando políticas de saúde e meio ambiente, são fundamentais para o estabelecimento de uma relação harmônica entre ser humano e natureza. Para isso, a educação ambiental deve ser estruturante das ações a serem realizadas. Finalmente, a Sala de Situação de Combate às Arboviroses reforça a atuação integrada entre as pastas, por meio de ações de educação ambiental voltadas tanto para a atuação dos técnicos da área de meio ambiente e de saúde envolvidos na execução dessa política, quanto voltadas à sensibilização e mobilização dos cidadãos para que possam compreender e agir na preservação da saúde, na sustentabilidade ambiental e em uma vida com mais qualidade.

A Educação Ambiental pode ser definida como: todos os processos permanentes de aprendizagem e formação – individual e coletiva – que têm como objetivo promover a reflexão e construção de valores, saberes, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências para melhoria da qualidade da vida e para uma relação sustentável da sociedade humana com o ambiente que integra (Política Estadual de Educação Ambiental, Lei Estadual nº 12.780/2007).

A relação sustentável com o meio ambiente implica em mudanças de paradigmas e no modelo de desenvolvimento que adotamos hoje, baseado em consumo de produtos, recursos naturais e acesso desigual a estes para atender às necessidades humanas.

As consequências de um modo de vida baseado no consumo não responsável atingem não apenas seres humanos, mas todos os seres vivos, afetando as relações ecológicas entre eles. No entanto, a percepção da importância de agirmos individual e coletivamente para que não sejam prejudicadas diversas espécies de plantas e animais pode ainda não fazer sentido para muitas pessoas – e trabalhar na formação dessa percepção é um grande desafio para a educação ambiental.

Uma estratégia para essa compreensão é esclarecer que, para além de aspectos diretamente relacionados à proteção da biodiversidade, as consequências dos impactos ambientais decorrentes de ações como a modificação da paisagem pela ocupação de áreas naturais, urbanização sem planejamento e emissão de gases de efeito estufa, repercutem também na qualidade de vida e na saúde do próprio ser humano.
Alguns efeitos nocivos da degradação ambiental para a nossa saúde são mais perceptíveis, como a poluição do ar nos centros urbanos, a falta de tratamento de esgotos e áreas contaminadas por produtos químicos, mas há outras maneiras dessa degradação afetar a saúde humana.

Como as condições do ambiente contribuem para disseminação de doenças?

Tudo no planeta Terra está interligado. Qualquer alteração no ambiente desencadeia, em maior ou menor grau, modificações nas cadeias biológicas, e propiciam o aparecimento ou o reaparecimento de doenças. Temos alguns exemplos de doenças que apresentaram aumento de casos nas últimas décadas e estão relacionadas com as alterações do ambiente, com uso dos recursos naturais e com destinação inadequada de resíduos produzidos pelas atividades humanas, como as destacadas a seguir.

Febre maculosa – por meio da picada do carrapato estrela, pode ser transmitida uma bactéria que causa essa doença. O maior reservatório natural do carrapato estrela são as capivaras. Essa bactéria, chamada de riquétsia, pode viver nas capivaras e em outros animais silvestres. Uma vez que o carrapato ficar infectado com a bactéria e picar um humano em condições propícias para transmissão da doença, a pessoa  pode adoecer. As capivaras são grandes roedores que vivem próximo a áreas alagadas. Com a mudança no uso do solo pela urbanização e utilização para cultivos agrícolas, há perda de habitat natural para esses animais, que acabam encontrando nesse ambiente modificado condições propícias para sobreviver e conviver com as pessoas, possibilitando a transmissão da febre maculosa.

Um fator agravante é que as capivaras são animais de rápido ciclo reprodutivo e, com a diminuição das áreas de mata e de seus predadores naturais, como a onça parda, não ocorre o controle natural desses roedores. Sem predadores, cresce o número de capivaras, favorecendo  a quantidade de carrapato-estrela e aumentam as chances de transmissão da doença.

Cabe ainda observar que, em algumas áreas no Estado de São Paulo, o risco de ser contaminado com a bactéria da febre maculosa está relacionado aos cães domésticos, que frequentam áreas com carrapatos transmissores e contaminados com a riquétsia, e os carregam para dentro das casas das pessoas, que ficam doentes quando picadas por esses carrapatos. Desta forma, é muito importante manter os cães domésticos restritos às residências, e somente realizar passeios com coleira e guia, não permitindo que entrem em áreas com a presença de carrapatos, além do contínuo controle de carrapatos nos cães, com produtos indicados para esse fim.

Leishmaniose – essa doença é transmitida pela picada do mosquito-palha. As mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização também influenciam no estabelecimento desse vetor nas áreas rurais e urbanas. O acúmulo de resíduos sólidos, especialmente de matéria orgânica, fornece locais propícios para completar o ciclo de vida desses mosquitos, pois locais úmidos e escuros, compostos por folhas e fezes de animais são ideais para alimentar as larvas do mosquito palha.

Atualmente estamos vivendo uma fase em que os impactos  negativos das alterações ambientais para a saúde humana estão intensos, como é o caso das arboviroses. São denominadas arboviroses (Arthropod-borne virus) as doenças virais que tem artrópodes como vetores – ou seja, aquelas que são transmitidas por insetos (os pernilongos, por exemplo) ou aracnídeos (carrapatos).

Dengue, Zyka e Chikungunya – o acúmulo de resíduos sólidos nos meios rurais e urbanos também tem enorme contribuição para a propagação dessas doenças, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Para depositar seus ovos, as fêmeas procuram locais propícios a acumularem água e, em contato com a água, esses ovos eclodem. Embalagens, entulho e pneus descartados e/ou armazenados inadequadamente podem facilmente se tornar criadouros e contribuir para a disseminação do mosquito e aumentos na transmissão dessas arboviroses. Além disso, a população pode armazenar água de maneira inadequada, como em recipientes sem tampa ou redes de proteção, também oferecendo espaços propícios à deposição de ovos pelas fêmeas. Com as mudanças climáticas, situações como estas já estão se intensificando.

Sala de Situação de Controle das Arboviroses

Essas questões são discutidas na Sala de Situação de Controle das Arboviroses, um grupo de trabalho do governo do Estado de São Paulo composto por técnicos de várias Secretarias – Secretarias da Saúde, Educação, Infraestrutura e Meio Ambiente, Defesa Civil, COSEMS (Conselho dos Secretários Municipais de Saúde) e Ministério da Saúde, com objetivo de monitorar a situação epidemiológica das arboviroses e discutir e propor ações para serem implementadas para atuar na prevenção e combate dessas doenças, com destaque para ações de educação ambiental envolvendo a mobilização e participação da população.

Desde 2012, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente faz parte desse grupo, atualmente representada pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental, e essa aproximação entre as áreas responsáveis pela gestão da saúde pública e gestão do meio ambiente tem desenvolvido uma política pública para que os técnicos dessas pastas atuem com olhar integrado para a saúde humana e para a saúde do ambiente.

Destacam-se como ações desse trabalho integrado:

Realização de encontros e workshops – com representantes da Secretaria de Estado da Saúde e técnicos das Agências Ambientais da Cetesb, para incorporação da investigação de criadouros do Aedes aegypti nas vistorias em empresas.

Reuniões técnicas sobre logística reversa de pneus – apresentando a importância da exigência pelos órgãos licenciadores de uma estrutura adequada para armazenamento nas centrais de transbordo, como locais cobertos, para evitar o acúmulo de água, e orientando as ações da Semana Estadual de Mobilização para recolhimento de pneus usados.

Bate-papo on line – com representantes da SUCEN e Vigilância Sanitária para falar sobre a relação entre saúde e meio ambiente e compreender o ciclo de vida do Aedes aegypti e as medidas para controlar a população desses mosquitos e prevenir as arboviroses transmitidas por eles. Clique aqui para assistir.

Desenvolver e implementar políticas públicas considerando um olhar mais abrangente sobre meio ambiente, integrando políticas de saúde e meio ambiente, são fundamentais para o estabelecimento de uma relação harmônica entre ser humano e natureza. Para isso, a educação ambiental deve ser estruturante das ações a serem realizadas.

Finalmente, a Sala de Situação de Combate às Arboviroses reforça a atuação integrada entre as pastas, por meio de ações de educação ambiental voltadas tanto para a atuação dos técnicos da área de meio ambiente e de saúde envolvidos na execução dessa política, quanto voltadas à sensibilização e mobilização dos cidadãos para que possam compreender e agir na preservação da saúde, na sustentabilidade ambiental e em uma vida com mais qualidade.

Texto: Rachel Azzari com a colaboração de Helia Piedade (Departamento de Fauna/CFB), Dalton Fonseca Jr. (SUCEN/SecSaude), Cristina Shimabukuro (Vigilância Sanitária/Sec.Saude) e Maria Fernanda Romanelli (CPLA)

Para saber mais: Educação Ambiental e saúde única