
22/06/2020
A conscientização da sociedade brasileira sobre a importância da conservação da biodiversidade e sobre as riquezas ambientais que possui depende, em grande parte, do conhecimento que se adquire em visitas a unidades de conservação. Conhecer é o primeiro passo para querer conservar e, neste aspecto, os jardins botânicos têm papel vital, sendo responsáveis pela disseminação de informações sobre biodiversidade, recursos naturais renováveis, bem como preservação, conservação, exploração e restauração dos ambientes naturais (Willison, 2003; Hardwicket al., 2011; Miller et al., 2016).
Um Jardim Botânico é definido como “Área protegida, constituída, no seu todo ou em parte, por coleções de plantas vivas cientificamente reconhecidas, organizadas, documentadas e identificadas, com finalidade de estudo, pesquisa e documentação do patrimônio florístico do país, acessível ao público, no todo ou em parte, servindo à educação, à cultura, ao lazer e à conservação do meio ambiente”, de acordo com a Resolução CONAMA nº 339, de 25/09/2003 (Brasil, 2003). |
O Botânico de São Paulo
O Jardim Botânico de São Paulo (JBSP) localiza-se na região sudeste do Brasil, no estado de São Paulo, mais especificamente, na região sudeste do capital paulista e conta com 36 hectares de área destinada à pesquisa, educação e lazer através da visitação pública. Tendo como gestor o Instituto de Botânica, o JBSP está inserido no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), uma Unidade de Conservação da Natureza (SNUC, 2000), que conta com 526 hectares de área recoberta com vegetação de Mata Atlântica e que contribui para regular o clima da cidade e preservar a biodiversidade paulista.

Localização do JBSP, inserido no Parque Estadual da Fontes do Ipiranga.
Abriga uma reserva biológica com vegetação natural remanescente de Mata Atlântica, preservando e conservando importantes espécies da flora e da fauna paulista, e ainda as nascentes do histórico riacho do Ipiranga, uma das quais pode ser observada pelos visitantes ao final da Trilha da Nascente.
Dentre os vários atrativos do JBSP destacam-se duas estufas com exposições sobre os biomas Mata Atlântica e Cerrado; diversos lagos, com especial atenção para o Lago das Ninfeias, que abriga coleções de plantas aquáticas; o Jardim dos Sentidos, elaborado com plantas de diferentes texturas, cores e aromas; a Trilha da Nascente, em meio a um remanescente natural de Mata Atlântica; e o Museu Botânico “Dr. João Barbosa Rodrigues”, idealizado por Frederico Carlos Hoehne (fundador do JBSP), inaugurado em 1942 e concebido para ser um equipamento didático-expositivo.
Suas atividades em educação para conservação são dirigidas ao público visitante em geral, com programação especial para estudantes e professores da rede pública e privada. Ao longo dos últimos dez anos, tem recebido um público médio anual de 150 mil visitantes, sendo 3,5% desse total, estrangeiros vindos de 38 países diferentes.
Programa de Educação Ambiental
Seguindo este contexto, o Núcleo de Pesquisa em Educação para a Conservação (NPEC), ligado ao Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas (CPJBR) do Instituto de Botânica (IBt), é responsável por expandir e aprimorar as ações de educação ambiental e divulgação científica da instituição, com o desenvolvimento de projetos educativos que visam fomentar a compreensão pública sobre a importância da conservação da biodiversidade. Para tanto, realiza um conjunto de ações como visitas educativas, produção de exposições artísticas e culturais, além de atividades de interpretação ambiental.
O Programa Educativo do NPEC proporciona ao público uma experiência mais significativa junto ao ambiente natural da Mata Atlântica e junto às coleções de plantas vivas expostas ao longo do eixo de visitação do JBSP, propiciando aos professores e alunos múltiplas contextualizações de conceitos botânicos e ecológicos e diversas abordagens sobre a conservação da biodiversidade e suas relações com os grandes temas ambientais como desmatamento, introdução de espécies exóticas, poluição, extinção de espécies, exploração predatória, aquecimento global e restauração ecológica.
O programa tem como meta conscientizar e educar o público visitante sobre a conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Por meio de suas ações cumpre também o compromisso de estabelecer elos entre a pesquisa em conservação e o modo de vida do público visitante.
Seus objetivos específicos são:
· promover o entendimento do conceito biodiversidade por meio das inter-relações físicas, biológicas, históricas e sociais presentes no JBSP;
· contribuir para despertar e ampliar a percepção do público sobre a importância da conservação da biodiversidade através da difusão informações técnico-científicas;
· estimular a reflexão sobre a crise ambiental atual e
· envolver a comunidade do entorno em ações educativas voltadas a conservação da biodiversidade.
A base teórica para a elaboração e desenvolvimento das atividades do programa educativo do NPEC do JBSP junto ao seu público visitante está fundamentada na teoria do “aprendizado sequencial” proposta por Cornell (1989). A ideia central que permeia as atividades é o incentivo ao trabalho coletivo, dando ênfase às ações investigativas que forneçam aos alunos elementos para a elaboração do raciocínio e da argumentação, apresentando suas considerações a respeito dos temas ou problemas ambientais apresentados e trabalhados durante a visita ao Jardim Botânico.
Método de Aprendizado sequencial
Trabalho coletivo: relaciona-se basicamente à observação e identificação de um determinado tema ambiental, que proporcionará a coleta, triagem e organização de dados a respeito do conteúdo abordado.
Primeiro momento: é necessário acalmar a ansiedade pela visita, despertar o entusiasmo e criar expectativas favoráveis para o trabalho em grupo. Segundo momento: é importante promover situações em que os alunos se vejam estimulados a identificar o problema a ser investigado e elaborar construções mentais de entendimento, no sentido de concentrar a atenção no tema. A partir deste momento inicia-se o trabalho prático, a experiência direta, a coleta, registro e interpretação dos dados relacionados ao problema. Terceiro momento: é fundamental promover situações que despertem reflexões críticas, discussões que possibilitem o compartilhamento de ideias e a compreensão básica dos conceitos tratados, bem como o entendimento das relações existentes entre comportamentos e atitudes da sociedade frente às questões ambientais. |
Em função do tempo da visita, não é possível vivenciar junto com os visitantes todos esses momentos, principalmente no compartilhamento de ideias fundamentadas na compreensão básica dos conceitos tratados, bem como no entendimento das relações existentes entre comportamentos e atitudes da sociedade frente às questões ambientais.
O fechamento e/ou produto desse trabalho só é possível de se verificar na escola, no espaço de educação formal, onde os professores dispõem de tempo, estratégias metodológicas e instrumentos de avaliação diferenciados e, principalmente, de uma relação mais íntima e eficiente com os alunos.
O desenvolvimento do trabalho de educação ambiental do Jardim Botânico de São Paulo junto às escolas tem mostrado resultados muito positivos. As devolutivas das escolas visitantes demonstram que 98,3% das instituições retomaram em sala de aula, os temas e conceitos abordados durante a visita, indicando ser uma estratégia para iniciar um tópico do conteúdo pedagógico, uma vez que outros resultados também mostraram que as atividades dirigidas em sala e os atrativos do JBSP constituem-se nos principais fatores, considerados pelos professores, na preparação da visita.
Conheça o JBSP em uma visita virtual .
TEXTO: Nelson Maciel – Instituto de Botânica/SIMA
Edição: Rachel Azzari – CEA/SIMA
Revisão: Luly Zonta – ACOM/SIMA