
23/08/2021
A questão do lixo tem se mostrado um dos mais graves problemas ambientais urbanos da atualidade. Só em 2018, o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. No Estado de São Paulo, são produzidos aproximadamente um quarto desse total, o que representa 19 milhões de toneladas. Cerca de 63% desse lixo poderia ser reciclado, mas apenas 2% desse total é de fato encaminhado à reciclagem, segundo o Plano Estadual de Resíduos Sólidos, de 2014.
Para atacar este problema, desde 2010 o Brasil tem uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, com metas para reduzir o número de municípios que não contam com coleta e disposição final do lixo adequados e aumentar o que reciclamos. No entanto, dos 5.570 municípios brasileiros, 1.650 ainda não têm nenhuma política para o lixo, e muitas vezes ele acaba num lixão, que é um local inadequado.
Mesmo com os aterros sanitários que trabalham dentro das normas, temos muitos desafios, já que eles ocupam grandes áreas que poderiam ser destinadas a outras funções, e têm vida útil curta – em 26% deles a vida útil é menor de dois anos. Para garantir um destino correto, muitos municípios deslocam seu lixo por grandes distâncias, gerando outros problemas, como os decorrentes do uso de combustível para o transporte.
É urgente criar alternativas para que a geração do lixo não ultrapasse nossa capacidade de processá-lo.
Em 2020, foi publicada a revisão do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, publicado inicialmente em 2014. O Plano apresenta diretrizes e metas para a gestão de resíduos sólidos até 2035, e há um Grupo de Trabalho (GT Educação Ambiental e Comunicação) no âmbito do Comitê de Integração de Resíduos Sólidos dedicado a avaliar como o Programa de Educação Ambiental na Gestão de Resíduos Sólidos (PEAGIRS) integrará as metas do Plano.
A educação ambiental é fundamental para que a sociedade compreenda a importância de nosso modelo de desenvolvimento e como isso afeta a quantidade de lixo gerado em nossas atividades. Neste texto, vamos trazer algumas delas e reflexões sobre algumas formas de abordagem para trabalhar essa temática:
Coleta seletiva e materiais recicláveis – A reciclagem é uma importante estratégia de diminuição de lixo nos aterros, já que parte desses materiais poderá ser novamente transformada em matéria prima para novos produtos. Porém, é importante atentar-se para o fato de que nem todo material reciclável será de fato reciclado, devido a dificuldades tecnológicas da cadeia produtiva ou custos para reciclagem. Assim, uma educação ambiental que reforça o consumo de embalagens como sendo ecologicamente corretos apenas por serem recicláveis aborda apenas um aspecto da questão, já que muitos deles podem acabar sendo destinados a aterros sanitários pela inviabilidade econômica de serem reciclados.
Na edição do Participe! Como ser um consumidor sustentável, Denize Cavalcanti, da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da SIMA, fala sobre a importância de se conhecer o tipo de material das embalagens para evitar escolher tipos de materiais que ainda não encontram viabilidade tecnológica ou econômica para que possam reingressar na cadeia produtiva.
Assim, é importante estar atento ao fato de que, nas ações de educação ambiental, a simples abordagem da reciclagem sobre separação do lixo e dos aspectos técnicos da reciclagem podem acabar tornando a reciclagem do lixo uma atividade-fim, ao invés de considerá-la um tema-gerador para o questionamento das causas e consequências da questão do lixo. A abordagem pode ser muito mais ampla, e abranger os valores culturais da sociedade de consumo. No texto “O Cinismo da Reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental”, o autor Philippe Layrargues trata, além da reciclagem, do problema do consumismo e o efeito ilusório que ações de educação ambiental focadas na separação do material podem causar nos indivíduos. Isso ocorre ao estimular o consumo pelo fato de que embalagens vazias podem ser recicladas, ou ao incentivar o consumo de produtos em campanhas de arrecadação de materiais recicláveis, ao invés de ressaltar que deve ser limitado às reais necessidades.
Reuso e upcycling – Até a década de 1990, era bem comum que as escolas fizessem atividades com materiais recicláveis, as “sucatas”. Em sua versão mais moderna e mais voltada a setores comerciais, o reaproveitamento de materiais que antes seriam descartados é chamado pela palavra em inglês upcycling. Ao promover educação ambiental incentivando o reaproveitamento de materiais para confecção de outro produto, é importante questionar qual será a vida útil desse novo material elaborado. Há chances de, ao chegar em casa, ir para a lata de lixo? Onde haverá mais chances de ter vida útil mais longa, na produção de um novo material ou ao ser encaminhado para reciclagem, sem adição de colas, tintas ou outros materiais que podem inviabilizar seu retorno ao processo produtivo?
Lixo na areia e lixo no mar – O lixo no mar é um problema mundial, complexo e que se amplia ao longo do tempo. Existem cerca de cinco grandes manchas de lixo nos oceanos. Segundo estudos, só no oceano Pacifico, há cerca de 100 milhões de toneladas de plástico. E embora o microlixo não tenha a imagem tão assustadora quanto montanhas de lixo, ele é uma grande ameaça à vida marinha por ser de difícil identificação e consequentemente, de difícil retirada da areia ou do mar.
Todo esse lixo, que não vem só da praia, pode trazer graves consequências. Muitas vezes é ingerido pela fauna marinha, como peixes e tartarugas, e outros animais, como as aves que se alimentam dos peixes. E, segundo dados divulgados pela ONU, a estimativa é que em 2050 a quantidade de plásticos na água supere a de peixes.
Pensando nisso tudo, uma das principais mensagens do Verão no Clima, projeto da Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente que atua nas praias paulistas, é a da importância de se reduzir o consumo de objetos de uso único, que serão automaticamente descartados, e que são bem comuns em contextos de turismo, como copos e colheres descartáveis.
A expectativa é que estes temas sejam naturalmente abordados por instituições atuantes no litoral. No entanto, estudos têm mostrado que o lixo que vai para a areia e para o mar, muitas vezes vem de outras regiões através dos rios e esgotos. Além disso, parte considerável desse material é trazido pelos turistas, que muitas vezes não se sentem na responsabilidade pelo destino do lixo que geram durante as férias. Assim, é cada vez mais importante que o tema seja abordado em todas as regiões, e não apenas no litoral.
Para saber mais sobre o tema, assista a edição do Participe! Como a poluição marinha impacta a vida no mar?, com Dr. Alexander Turra, Professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e coordenador da Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano, ligada ao Instituto de Estudos Avançados e ao Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.
Compostagem – Se na coleta seletiva o consumidor tem a responsabilidade de se atentar aos tipos de materiais das embalagens que vão para reciclagem, como podemos contribuir ainda mais para a diminuição do material que vai para os aterros sanitários? Uma das possibilidades é através da compostagem, que pode diminuir consideravelmente o volume de material orgânico descartado e dar um novo destino: a nutrição das plantas em casa. Algumas prefeituras têm apostado nessa estratégia e inserido a compostagem em seus programas de Educação Ambiental. Na edição do Participe! Experiências de Educação Ambiental nas Diretivas do Programa Município Verde Azul fala sobre como o município de Penápolis tem abordado essa questão entre seus moradores.
Texto: Sandra Oliveira (CEA)
Revisão: Rachel Azzari (CEA)