
08/11/2021
Cavernas e Carstes
As cavernas podem ter diferentes nomes populares como gruta, toca, furna, lapa, abismo. Segundo o Decreto Nacional N° 6.640/2008, caverna é “todo e qualquer espaço subterrâneo acessível pelo ser humano, com ou sem abertura identificada, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali encontrados e o corpo rochoso onde os mesmos se inserem, desde que tenham sido formados por processos naturais, independentemente de suas dimensões ou tipo de rocha encaixante”.
De acordo com sua formação, podem ser classificadas em cavernas primárias ou secundárias.
As cavernas primárias têm o mesmo tempo de origem da rocha que as originam. Ou seja, quando a rocha estava depositando sedimentos em sua formação, a rocha já continha o espaço da caverna em sua formação. As cavernas primárias também podem se formar por meio de tubos de lava, os quais recebem parte da lava expelida nas erupções vulcânicas; uma parte da lava se consolida ao resfriar e, depois que toda a lava passa, são mantidos túneis formando as cavernas.
A maioria das cavernas tem formação secundária, o que quer dizer que se formam posteriormente à consolidação das rochas, geralmente muitos milhares de anos depois.
Carste é um terreno com hidrologia e formas de relevo típicas decorrentes da combinação entre a alta solubilidade de certas rochas e o desenvolvimento de porosidade secundária na forma de condutos; quando conseguimos entrar por eles, chamamos de cavernas. |
Os terrenos cársticos cobrem cerca de 20% da superfície terrestre global emersa. Neles, a água da chuva percola e, por processos químicos dissolve a rocha formando condutos. Com isso, podem acontecer diversos tipos de feições, como as cavernas. Uma característica importante é que as cavernas cársticas formam aquíferos, cuja água muitas vezes é utilizada para consumo e abastecimento público.
Breve histórico da Espeleologia no Brasil
A ciência dedicada ao estudo das cavidades naturais subterrâneas é chamada de Espeleologia.
No Brasil, as primeiras descrições científicas sobre cavernas datam de 1835, e foram resultado do trabalho do dinamarquês Peter Wilhelm Lund.
O Primeiro Congresso Brasileiro de Espeleologia aconteceu em Iporanga (SP) em 1964, organizada pelo espeleólogo francês Michel Le Bret.
Muitos grupos espeleológicos brasileiros surgiram a partir da década de 70, e a Sociedade Brasileira de Espeleologia foi fundada em 1969, no IV Congresso Brasileiro de Espeleologia, em Ouro Preto (MG).
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Cavernas (CECAV), instituição governamental vinculada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade foi criado em 1997 ( à época sob a denominação de Centro Especializado voltado ao Estudo, Proteção e Manejo das Cavernas), responsável pela conservação do Patrimônio Espeleológico Nacional.
Cavernas e carstes são muito relevantes para pesquisa, educação ambiental e ecoturismo
Existem diversas interações a serem compreendidas com relação às cavernas como, por exemplo, as variações climáticas no passado, as formas e condições geológicas existentes para a formação das cavernas, as diversas formas de vida que já habitaram e que hoje tem as cavernas como seus habitats, dentre outras. Trata-se de uma área que exige abordagens multidisciplinares – Geologia, Biologia, Física, Ecologia, Arqueologia, Paleontologia, Hidrologia..
Segundo a União Internacional de Espeleologia, cerca de 150 milhões de turistas visitam cavernas todos os anos, proporcionando um apoio vital a muitas economias nacionais. As cavernas são o lar de muitos dos ecossistemas mais diversos, importantes e raros do planeta, apoiando a diversidade ecológica acima e abaixo do solo. Os sítios culturais e arqueológicos mais significativos do mundo encontram-se frequentemente em cavernas cársticas e não cársticas.
Além disso, os aquíferos cársticos fornecem cerca de 10% da água potável do mundo, e incluem os maiores poços e nascentes da Terra. Especialmente na Europa e na Ásia, 20 a 25% do abastecimento público acontece por aquíferos cársticos.
As cavernas e o carste são recursos inestimáveis. Centenas de cavernas estão abertas ao turismo em todo o mundo, muitas delas em locais classificados como Património Mundial.
São cadastradas mais de 20.000 cavernas no Brasil, e dados apontam que de 3 a 5 % do território nacional é de carste. O Estado de São Paulo abriga cerca de 800 cavernas, e o vale do Ribeira é a região com mais cavernas e carste.
Qual a relação das cavernas com o meio ambiente?
Além do potencial turístico e geração de renda em regiões que abrigam cavernas, é fundamental reconhecer a influência que os seres humanos exercem sobre elas e conhecer sua importância para o uso sustentável de recursos naturais:
- A proteção do Patrimônio Espeleológico abrigado em Unidades de Conservação, como os Parques Estaduais, exerce papel de proteção da biodiversidade e também da geodiversidade, uma vez que mantém preservadas regiões com rochas calcáreas, por exemplo, estimulando a sustentabilidade dos recursos naturais e poupando as fontes de minerais.
- Aquíferos cársticos são vulneráveis à contaminação de corpos hídricos. Neles, a água flui muito rápido, não há solo em quantidae significativa e a recarga (local por onde a água reabastece o aquífero) é feita de forma pontual. Se houver contaminação por poluentes ou agentes causadores de doenças no ponto de entrada, pode gerar contaminação de todo o aquífero.
- Há riscos à ocupação do solo em terrenos cársticos sem estudos prévios, pois são áreas vulneráveis a processos erosivos e subsidência (afundamento do solo por alterações no suporte subterrâneo).
Espeleorresgate
Uma atividade importante nas cavernas é o espeleorresgate. A exploração das cavernas passa por transitar em espaços que podem ascender ou descender abruptamente, escalar paredes íngremes ou fazer rapel em abismos, desembocar em grandes salões ou em passagens estreitas. E, além da diversidade de terrenos, muitas vezes eles são preenchidos ou intercalados por rios e cachoeiras subterrâneas.
O treinamento e equipamentos para essas atividades são exclusivos e, em caso de acidentes, muitas vezes a estrutura convencional para resgatar vítimas não é suficiente.
Por isso existem formações específicas e cursos para resgate em cavernas, promovidas pela Sociedade Brasileira de Espeleologia, Seção de Espeleorresgate, em parceria com equipes francesas, com grande experiência reconhecida mundialmente e metodologia própria.
2021, Ano Internacional das cavernas e carstes
Com o objetivo principal de “Explorar, compreender e proteger” cavernas e carstes, a União Internacional de Espeleologia estabeleceu esse ano para centrar esforços para ações que contribuam com a promoção de sua importância para o desenvolvimento sustentável, com destaque para a qualidade e quantidade da água, agricultura, geoturismo/ecoturismo, e património natural/cultural, e também para demonstrar como o estudo e a gestão adequada de cavernas é fundamental para a saúde econômica e ambiental global.
Saiba Mais/ Fontes das informações:
Participe! Cavernas: pesquisa, ecoturismo e educação ambiental – https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/videos/participe-cavernas-pesquisa-ecoturismo-e-educacao-ambiental/
International Year of Caves and Karst – http://iyck2021.org/index.php/international-year-of-caves-and-karst/
Decreto Nº 6.640, de 7 de novembro de 2008. – Dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6640.htm
Sociedade Brasileira de Espeleologia – www.cavernas.org.br
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas – https://www.icmbio.gov.br/cecav/
Biblioteca Fapesp (tema Cavernas) – https://bv.fapesp.br/pt/assunto/6614/cavernas/
Sociedade Excursionista e Espeleológica da Univ. Federal de Ouro Preto – https://see.ufop.br/espeleologia
Conselho do Patrimônio Espeleológico do Estado de São Paulo – https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/cpesp-conselho-do-patrimonio-espeleologico-do-estado-de-sao-paulo/
Calendário Ambiental 1º de novembro – Dia Nacional da Espeleologia – https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/destaque-home/1o-de-novembro-dia-nacional-da-espeleologia/
Texto: Rachel Azzari – Coordenadoria de Educação Ambiental / Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
Foto: Freepik