
27/03/2023
O Dia Internacional da Mulher é um dia marcado pela luta do movimento feminista, por reivindicações de direitos e igualdade, principalmente, pelo estímulo a uma forma de pensar socialmente justa para todas e todos.
Apesar da realidade estar ainda muito longe do desejado e necessário, as mulheres alcançaram, depois de muita luta, inúmeros direitos e vêm se empoderando em diversas áreas. A busca por participação nas tomadas de decisão e a busca por espaço em papeis de liderança está se fortalecendo. E essa luta das mulheres por espaço na sociedade passa, também, por uma importante questão, que é a proteção do meio ambiente.
É fundamental falar da relação do feminino com o meio ambiente, pois as mulheres têm uma relação muito forte com a natureza. Historicamente e culturalmente, as mulheres sempre estiveram envolvidas e dominaram os saberes da coleta e do cultivo de alimentos, da coleta de água (em muitos lugares de seca extrema, que sofrem muitas vezes com a desertificação, como no nordeste brasileiro e na África subsaariana, as mulheres são responsáveis por coletar água em locais muito distantes de casa), da agricultura familiar, da boa gestão dos recursos naturais para sustento das suas famílias e da comunidade, do uso das plantas medicinais, da relação de uma boa qualidade ambiental com uma boa qualidade de vida e saúde e dos saberes tradicionais, que podem contribuir para a sustentabilidade da comunidade onde estão inseridas. Além disso, as mulheres sempre tiveram uma grande capacidade de articulação e mobilização, inicialmente na luta por território e melhores condições de vida, e ampliada na luta por justiça social, igualdade e sustentabilidade ambiental.
É fato que a degradação ambiental gera e agrava problemas sociais. Isso levou à formação de movimentos ambientalistas e de organizações em defesa da natureza e dos direitos humanos em todo o mundo. Ao longo do tempo, o ambientalismo se estabeleceu na agenda de diversos países, trazendo inúmeros avanços.
Podemos destacar dentre inúmeras mulheres ambientalistas, por exemplo, o papel de uma mulher pioneira, a bióloga marinha e ecologista Rachel Carson, que escreveu, em 1962, o livro “Primavera Silenciosa”, que denunciou os impactos do uso de inseticidas e pesticidas sintéticos, em especial o DDT, na natureza, nos animais e em humanos, e defendeu o uso controlado dessas substâncias. Porém, Carson enfrentou, por ser mulher e ambientalista, diversos problemas e ataques críticos em decorrência da publicação desse livro, que abalou muito homens poderosos e seus interesses à época.
Assim como Carson, muitas mulheres enfrentaram e enfrentam inúmeras dificuldades na busca pela justiça social e preservação ambiental.
Os impactos sobre o meio ambiente atingem de forma desigual as comunidades em situação de pobreza. As pessoas em situação de vulnerabilidade social sofrem de forma mais direta e intensa a degradação ambiental e são as primeiras e mais atingidas pelos eventos climáticos extremos provocados pelas mudanças climáticas.
Devido a um processo histórico cultural de discriminação estrutural, além de outros fatores socioeconômicos, as mulheres representam, aproximadamente, 70% do total de pessoas que estão em condições de extrema pobreza e são as mais vulneráveis no que se refere ao enfrentamento de eventos climáticos extremos, como secas e inundações, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC); além da falta de oportunidade de estudo, de emprego, de moradia, da violência física, sexual e psicológica e das desigualdades sofridas. Dentre essas mulheres, as mulheres negras, vítimas do racismo estrutural, são ainda mais vulneráveis e marginalizadas.
Apesar dos avanços conquistados pela resistência e luta do movimento feminista e do engajamento das mulheres nas causas ambientais, elas ainda não ocupam os cargos de comando, têm menos poder nas tomadas de decisões em relação aos homens, menos participação na política, têm menos oportunidades e sofrem com desigualdades socioeconômicas, discriminação e violência.
Para um desenvolvimento sustentável equitativo, para o enfrentamento às mudanças climáticas e para que haja justiça climática, é fundamental aumentar a participação das mulheres nos postos de planejamento, desenvolvimento, decisão e implementação na área de meio ambiente e desenvolvimento; procurar integrar as questões de gênero nas políticas e programas em prol do desenvolvimento sustentável; além, é claro, de combater a misoginia, o preconceito e a violência contra a mulher, combater o analfabetismo oferecendo oportunidade de estudo, aumentar as oportunidades de emprego em condições de igualdade e remuneração equitativa, fortalecer os serviços de saúde da mulher, dentre outras medidas.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, no ano de 2015, criou a “Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, contendo 17 objetivos globais. Os países membros aprovaram um plano de ação para promover o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Foram definidas 169 metas globais com foco nas pessoas, no planeta, na prosperidade e na paz mundial. As metas para o alcance da igualdade de gênero estão no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5:
Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte
5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos
5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas
5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais
5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública
5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão
5.a Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais
5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres
5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis
Saiba mais: http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/paridade/
Referências
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima – IPCC. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/cgcl/clima/paginas/painel-intergovernamental-sobre-mudanca-do-clima-ipcc#:~:text=O%20Painel%20Intergovernamental%20sobre%20Mudan%C3%A7a,a%20mudan%C3%A7a%20do%20clima%2C%20suas
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 Global – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Capítulo 24 – Ação mundial pela mulher, com vistas a um desenvolvimento sustentável e equitativo. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/cap24.pdf
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – 5 – Igualdade de gênero. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/5
REVISTA GALILEU. Rachel Carson, a primeira ambientalista a alertar sobre impactos do DDT. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2021/05/rachel-carson-primeira-ambientalista-alertar-sobre-impactos-do-ddt.html
SUDEMA. Empoderamento feminino nas causas ambientais: uma luta que transcende. Disponível em: https://sudema.pb.gov.br/noticias/empoderamento-feminino-nas-causas-ambientais-uma-luta-que-transcende
Texto – Denise Scabin – CEA/ SEMIL
Gestão de conteúdo e planejamento – Cibele Aguirre – CEA/ SEMIL