20/03/2023

Não é coincidência que, na mesma semana do mês de março, comemoramos, no dia 21, o Dia Internacional das Florestas e, no dia 22, o Dia Mundial da Água, datas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), pois as florestas e a água têm uma profunda ligação.

Para compreender essa ligação, é importante, primeiramente, entender o que é, e de onde vem a água.

A água é uma substância incolor, insípida e inodora, essencial para a existência de vida.  Ela é encontrada em três estados físicos: líquido, sólido e gasoso. A água circula de maneira contínua pelo planeta, mudando de estado a passos sucessivos, que formam um ciclo: o chamado ciclo da água. Quando a temperatura está alta, devido à ação do sol, a água presente nos rios, lagos, córregos, mares, oceanos e no solo se evapora para a atmosfera. Esse vapor, ao encontrar as camadas de ar mais frio, forma as nuvens. A água, então, volta para a superfície da terra em forma de chuva.

Mas, qual é o papel das florestas na produção de água?

As florestas têm um importante papel na manutenção do equilíbrio ambiental global e na regulação do ciclo hidrológico, influenciando no regime de precipitação, na proteção do solo e dos cursos d’água, na purificação e “reciclagem” da água, no controle de cheias e inundações, impedindo a ocorrência de enchentes, impedindo a erosão do solo, o assoreamento de rios, a ocorrência de secas e a desertificação; ou seja, as florestas influenciam na qualidade e disponibilidade de água.

“A principal forma de abastecimento das bacias hidrográficas é por meio da precipitação. Parte da chuva que incide em uma área florestada na bacia fica retida nas folhas das árvores, retornando para a atmosfera por meio da evapotranspiração; e outra parte alcança o solo e vai infiltrando lentamente até atingir o lençol freático e depois os rios e mares. Esse ciclo fechado depende de várias variáveis como o clima e a integridade e vitalidade das florestas, uma vez que há uma relação direta entre a presença de cobertura vegetal e a quantidade e qualidade da água. Isso porque a falta de vegetação para interceptar, armazenar e absorver a água proveniente da chuva provoca um aumento no escoamento superficial e no assoreamento de cursos d’água, diminuindo o tempo de permanência da água na bacia hidrográfica, ocasionando eventos de enchente e seca. Além disso, a influência das florestas sobre a qualidade da água é inquestionável, uma vez que as folhas secas, o húmus e o solo constituem excelente peneira para filtrar a água procedente da precipitação, somado ao fato de que as florestas abrigam notável vida microbiana e fabricam fértil húmus, fundamento de rica biodiversidade que armazena e recicla imensas quantidades de água.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. A Função das Florestas no Ciclo Hidrológico.)

Você já ouviu falar nas matas ciliares?

As matas que recobrem as margens dos rios e suas nascentes recebem o nome de matas ciliares, que surgiu da comparação entre a proteção dos cílios aos olhos e o papel protetor das matas em relação aos corpos d’água.

As matas ciliares estão presentes em todos os biomas brasileiros: cerrado, mata atlântica, caatinga, floresta amazônica, pantanal e pampa.

Os rios são alimentados pelas águas das chuvas, ou seja, as cheias, que ocorrem de modo diferenciado ao longo do ano e os ambientes das margens também podem mudar ao longo do tempo. Após a ocorrência das chuvas, boa parte da água é absorvida em diferentes locais de uma microbacia, que sejam recobertos por florestas. A água cai nas copas das árvores, escorre pelos troncos e folhas e alcança o solo da mata, podendo ser absorvida pelas raízes e incorporada pelas plantas. A água, então, será utilizada pelas plantas para produzir energia, e uma parte será liberada pelas folhas como resultado de sua respiração e, também, da transpiração, retornando à atmosfera. Uma parte da água das chuvas permanece na superfície das folhas e evapora. Assim, a presença das matas diminui a velocidade do escoamento da água das chuvas, permitindo que parte dela consiga ser absorvida pelo solo e alimente o lençol freático. (SÃO PAULO. Cadernos de Educação Ambiental – 7 – Matas Ciliares.)

As matas ciliares, portanto, funcionam como uma esponja, que absorve e retém a água, e libera gradativamente essa água, tanto para o lençol freático, como para os corpos d’água. As matas ciliares influenciam na quantidade da água e também melhoram a qualidade da água em uma microbacia, pois retêm os sedimentos e os nutrientes carregados pela água das chuvas, vindos das partes mais altas do terreno. Inclusive, há estudos que demonstram que as matas ciliares conseguem reter parte da carga de poluentes químicos, como agrotóxicos, por exemplo, evitando a contaminação de rios, córregos e lagos. As matas ciliares também contribuem para que menos resíduos sólidos cheguem aos mares e oceanos.  As raízes da vegetação das matas ciliares formam uma espécie de rede, que fixa o solo e mantém as margens estáveis. Tudo isso, colabora para evitar os riscos de assoreamento dos corpos d’água e de deslizamentos de terra. (SÃO PAULO. Cadernos de Educação Ambiental – 7 – Matas Ciliares.)

Como podemos ver, a interação entre água e floresta é complexa e podemos concluir que o desmatamento e a degradação de matas ciliares têm um grave impacto no ciclo da água de uma bacia hidrográfica, além do impacto em toda a biodiversidade.

É fato que necessitamos de água para beber, fazer comida, manter a higiene, produzir alimento na agricultura, abastecer indústrias, gerar energia elétrica e tantas outras coisas, como para dessedentação animal, transporte, lazer, etc… Por isso, é fundamental proteger os recursos hídricos da poluição, contaminação e desperdício, e proteger as florestas e matas ciliares do desmatamento e das queimadas.

Conheça os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU – ODS 6 e 15, que tratam respectivamente das questões relativas à água e floresta.

 

Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos

6.1 Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos.

6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.

6.3 Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.

6.4 Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água.

6.5 Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, inclusive via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado.

6.6 Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.

6.a Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso.

6.b Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento.

 

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade

15.1 Até 2020, assegurar a conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas terrestres e de água doce interiores e seus serviços, em especial florestas, zonas úmidas, montanhas e terras áridas, em conformidade com as obrigações decorrentes dos acordos internacionais.

15.2 Até 2020, promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas, deter o desmatamento, restaurar florestas degradadas e aumentar substancialmente o florestamento e o reflorestamento globalmente.

15.3 Até 2030, combater a desertificação, restaurar a terra e o solo degradado, incluindo terrenos afetados pela desertificação, secas e inundações, e lutar para alcançar um mundo neutro em termos de degradação do solo.

15.4 Até 2030, assegurar a conservação dos ecossistemas de montanha, incluindo a sua biodiversidade, para melhorar a sua capacidade de proporcionar benefícios que são essenciais para o desenvolvimento sustentável.

15.5 Tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a degradação de habitat naturais, deter a perda de biodiversidade e, até 2020, proteger e evitar a extinção de espécies ameaçadas.

15.6 Garantir uma repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos e promover o acesso adequado aos recursos genéticos.

15.7 Tomar medidas urgentes para acabar com a caça ilegal e o tráfico de espécies da flora e fauna protegidas e abordar tanto a demanda quanto a oferta de produtos ilegais da vida selvagem.

15.8 Até 2020, implementar medidas para evitar a introdução e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias.

15.9 Até 2020, integrar os valores dos ecossistemas e da biodiversidade ao planejamento nacional e local, nos processos de desenvolvimento, nas estratégias de redução da pobreza e nos sistemas de contas.

15.a Mobilizar e aumentar significativamente, a partir de todas as fontes, os recursos financeiros para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas.

15.b Mobilizar recursos significativos de todas as fontes e em todos os níveis para financiar o manejo florestal sustentável e proporcionar incentivos adequados aos países em desenvolvimento para promover o manejo florestal sustentável, inclusive para a conservação e o reflorestamento.

15.c Reforçar o apoio global para os esforços de combate à caça ilegal e ao tráfico de espécies protegidas, inclusive por meio do aumento da capacidade das comunidades locais para buscar oportunidades de subsistência sustentável.

 

 

 

Referências

 NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil

SÃO PAULO. Cadernos de Educação Ambiental – 7 – Matas Ciliares. São Paulo, 2014

SÃO PAULO. Manual do Ecocidadão. São Paulo, 2012

SEMIL. Pesquisas comprovam a importância da vegetação na produção de água.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. A Função das Florestas no Ciclo Hidrológico.

 

Saiba mais:

Assoreamento: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-assoreamento.htm

Ciclo da água: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-agua.htm#:~:text=O%20ciclo%20da%20%C3%A1gua%2C%20tamb%C3%A9m,%2C%20hidrosfera%2C%20litosfera%20e%20biosfera.

Ciclo hidrológico: https://antigo.mma.gov.br/component/k2/item/420-ciclo-hidrol%C3%B3gico.html

Evapotranspiração: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/evapotranspiracao.htm

Precipitação: http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/daniel/Downloads/Material/Pos-graduacao/Manejo%20e%20conservacao%20do%20solo%20e%20da%20agua/manejo%20e%20conservacao%20-%20parte%202.pdf

 

 

Texto – Denise Scabin Pereira – CEA/ SEMIL
Gestão de conteúdo e planejamento – Cibele Aguirre – CEA/ SEMIL