14/01/2019

Muitas pessoas acreditam que as atividades de educação ambiental em áreas protegidas resumem-se a visitas monitoradas nas quais sejam apresentados principalmente os atributos naturais do local.

Muitas pessoas acreditam que as atividades de educação ambiental em áreas protegidas resumem-se a visitas monitoradas nas quais  sejam apresentados principalmente os atributos naturais do local. Porém, é preciso que se reconheça que o papel educativo dessas áreas abrange processos mais amplos voltados à formação de pessoas capazes de desenvolverem uma visão crítica sobre a realidade socioambiental e engajarem-se na sua transformação, de modo que as visitas às áreas protegidas abram possibilidades para a reflexão e ação sobre temas socioambientais locais, regionais, nacionais e globais.

Nesse sentido, o “EducaTrilha na Escola” é um programa educativo que consiste em um concurso de projetos de educação ambiental desenvolvidos nas escolas de Piracicaba, incluindo visitas à Estação Experimental de Tupi (conhecida localmente como “Horto de Tupi”). A edição de 2018 foi realizada pelo Instituto Florestal (IF), Fundação Florestal (FF), Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA), os quais são unidades do Sistema Ambiental Paulista, e Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (SEDEMA), com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de Piracicaba, da Diretoria de Ensino da Região de Piracicaba, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo – ESALQ/USP (Laboratório de Educação e Política Ambiental – OCA e Grupo de Estudos Desafios da Prática Educativa – GEDePE) e do Grupo Multidisciplinar de Educação Ambiental (GMEA).

O programa foi elaborado a partir do projeto de pesquisa “Educação ambiental em áreas protegidas do Estado de São Paulo e sua contribuição à escola”, desenvolvido em nível de doutorado pela especialista ambiental do IF, Maria Luísa Bonazzi Palmieri, sob orientação da Professora Doutora Vânia Galindo Massabni, da ESALQ/USP. Nesse projeto de pesquisa, foram analisadas as contribuições das visitas em áreas protegidas do IF e da FF e propostos aspectos pedagógicos e institucionais para a potencialização dessas contribuições. O “EducaTrilha na Escola” buscou colocar em prática as propostas apresentadas na pesquisa. Este programa considerou, ainda, o “EducaTrilha: processo de formação continuada de docentes em educação ambiental em áreas naturais”, que também foi baseado em um projeto de pesquisa e premiado pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (COMDEMA) em 2016.

O objetivo do “EducaTrilha na Escola” é fomentar processos crítico-reflexivos, participativos, contínuos e permanentes de educação ambiental nas escolas que envolvam visitas à Estação Experimental de Tupi e estejam comprometidos com os princípios das Políticas Nacional, Estadual e Municipal de Educação Ambiental. Trata-se também de um projeto piloto para a construção de políticas públicas de educação ambiental inovadoras com o público escolar nas áreas protegidas do Estado de São Paulo e nas áreas verdes/parques urbanos do município de Piracicaba.

Os prêmios são educativos e consistem em uma viagem ao Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, no município de Ubatuba, com os professores das escolas vencedoras, bem como a realização de atividades lúdico-educativas nas respectivas escolas.

Para subsidiar tais projetos, na edição de 2018 foram oferecidos sete módulos formativos, os quais tiveram a participação de onze escolas e dezessete professores e abordaram os seguintes temas: trilhas e vivências em ambiente natural; diagnóstico socioambiental da escola e do entorno; reflexões e práticas sobre o Tratado de Educação Ambiental; reflexões e práticas sobre a educação ambiental nas escolas e nas áreas naturais; participação social e protagonismo juvenil; elaboração de portfólios; e estratégias de avaliação e de continuidade de projetos de educação ambiental em escolas. Após a realização dos encontros e das visitas das escolas na Estação Experimental de Tupi, os participantes entregaram os portfólios, documentos nos quais registraram todas as atividades desenvolvidas nas escolas e visitas e como elas se relacionam com os critérios de pontuação do concurso.

Os critérios de pontuação foram divulgados no regulamento, baseados nas Políticas Nacional, Estadual e Municipal de Educação Ambiental e na pesquisa citada. São eles:
1) Planejamento das visitas de estudantes à Estação Experimental de Tupi em conjunto com a equipe da unidade;
2) Número de atividades relativas ao projeto desenvolvidas nas escolas;
3) Atividades desenvolvidas nas escolas com a utilização de metodologias participativas, relativas ao projeto, envolvendo professores de diferentes disciplinas (interdisciplinaridade);
4) Integração das atividades desenvolvidas com os conteúdos escolares e/ou com outros projetos em andamento nas escolas;
5) Abordagem do pensamento crítico nas atividades do projeto;
6) Protagonismo estudantil;
7) Participação das escolas nos encontros formativos promovidos pelo projeto;
8) Avaliação;
9) Cooperação entre escolas nos encontros formativos;
10) Estratégias de continuidade de atividades educativas nas escolas.
Para cada critério, foram definidos meios de verificação, indicadores e a pontuação correspondente.

Ao final do processo, seis escolas que apresentaram portfólios contendo as atividades desenvolvidas foram premiadas, nas respectivas categorias: Escola Municipal de ensino fundamental I: E.M. Prof. Wilson Guidotti; Escola Particular de Ensino Fundamental I: Escola COOPEP; Escola estadual de Ensino Fundamental II: 1º lugar: E.E. Prof. Manassés Ephrain Pereira; 2º lugar: E.E. Prof. João Alves de Almeida; e 3º lugar: E.E. Prof. Jethro Vaz de Toledo; e Escola Estadual de Ensino Médio: E. E. Bairro Santo Antônio.

Ao longo do ano, os professores desenvolveram atividades nas escolas utilizando metodologias abordadas nos encontros formativos (como a árvore dos sonhos, o muro das lamentações, o resgate histórico e o biomapa), bem como implantaram hortas, jardins e trilhas sensoriais. Também foram realizadas atividades de reaproveitamento de materiais, pesquisa de receitas de alimentos saudáveis, elaboração de músicas e desenhos sobre temas socioambientais, estudo de plantas, rodas de conversa sobre temas socioambientais da escola e do entorno, entre outras.

As visitas à Estação Experimental de Tupi, por sua vez, foram planejadas e conduzidas de forma conjunta pelos professores e equipe organizadora. Diversas visitas utilizaram metodologias participativas durante a trilha, como “quizz”, “bingo” e dinâmicas de grupo. Também foram realizadas outras atividades, como apresentação de uma peça de teatro feita pelos alunos, por exemplo. Como prêmio, foi oferecida uma viagem a cinco professores de cada escola premiada ao Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, no município de Ubatuba. Nessa viagem, os participantes ficaram hospedados na Praia da Fazenda e tiveram a oportunidade de conhecer cinco ecossistemas diferentes: a mata de encosta, a restinga, o manguezal, o costão rochoso e a praia. Também visitaram uma comunidade quilombola e puderam conhecer um pouco sobre a história e a cultura locais. As trilhas realizadas na unidade (Trilha Fluvial no Rio Fazenda, da Rendeira, Sensorial, do Jatobá e do Saco das Taquaras) foram conduzidas por monitores locais (funcionários do parque e pessoas da comunidade), valorizando os conhecimentos tradicionais e propiciando aprendizagem sobre aspectos ecológicos, sociais, políticos e culturais. Durante a estadia na unidade, também houve um momento de troca de experiências com a equipe do núcleo Picinguaba.

Outro prêmio foi a possibilidade de realização do “Dia EducaTrilha na Escola” em cada escola premiada, com atividades educativas planejadas em conjunto pelos professores e pela equipe do programa, em um momento de aprendizagem e celebração. Nesses eventos, foram realizadas atividades lúdico-educativas sobre temas socioambientais, visitas a cursos d’água próximos à escola, apresentações de poesias e músicas feitas pelos alunos, entre outras atividades.

Observa-se que o programa estimulou o desenvolvimento de processos de educação ambiental nas escolas, que incluíram visitas à Estação Experimental de Tupi. Está sendo elaborado um projeto de  pesquisa para analisar com profundidade os resultados dessa primeira edição do programa e desenvolvidas estratégias para obter a participação de mais escolas.

Há perspectivas de continuidade do programa neste ano de 2019, sendo que o planejamento da próxima edição está sendo elaborado considerando a experiência de 2018 e buscando-se adequar a proposta às demais demandas das escolas e órgãos de educação, especialmente às orientações da Base Nacional Comum Curricular – BNCC.    

Maria Luísa Bonazzi Palmieri
Especialista ambiental
Estação Experimental de Tupi 

 

Para saber mais: a tese de Maria Luísa Bonazzi Palmieri