25/06/2025

Quais são as estratégias a serem adotadas para sairmos de um modelo atual de economia em que os recursos não são reaproveitados e chegarmos a um modelo alternativo, baseado no próprio processo cíclico da Terra em que nada é descartado e tudo se transforma novamente em recurso?

Para que os objetivos da Economia Circular sejam alcançados, é preciso vencer o desafio de criar produtos e ideias mais sustentáveis que também engajem a maioria das pessoas do planeta. É o que explica o professor e pesquisador em Economia Circular Daniel Guzzo, novo Embaixador Educacional do Movimento Circular.

 

Qual a importância da inovação para a Economia Circular?

Para que uma economia alternativa ao modelo atual seja realmente o futuro do planeta, substituindo o modelo linear e insustentável atual, existe a necessidade de que as novas soluções tecnológicas se aliem a soluções comportamentais e de valores. De acordo com Guzzo, a inovação é muito importante ao pensar em novas iniciativas e novas maneiras de utilizar os recursos.

Entretanto, muitas vezes, se criam conceitos que não avançam e não saem dos nichos iniciais e reduzidos em que foram criados, dificultando a transição de uma sociedade linear para uma circular.

“A gente está em um ponto em que ou a gente escala os conceitos que a gente está desenvolvendo, fazendo toda a jornada de inovação chegar até as grandes empresas e sair do lugar de nicho, chegando a maioria das pessoas, ou a gente não vai ter rapidez suficiente para o tempo que a gente precisa fazer a mudança”, destaca o pesquisador em Economia Circular.

Iniciativas para uma Economia Circular

O professor destaca que há algumas iniciativas de diferentes graus de maturidade acontecendo que podem ajudar a se chegar a um futuro onde majoritariamente as práticas serão circulares. Estas iniciativas acontecem nos mais diversos setores em todo o mundo e também no Brasil.

Um exemplo de circularidade puxada pelos negócios é o que a empresa holandesa chamada Fairphone vem fazendo com o design de celulares modulares, em que há a possibilidade de trocar alguns componentes quando necessário para que o dispositivo inteiro não seja substituído. No Brasil, existe um aplicativo chamado Cataki, que tem a proposta de conectar pessoas que possuem materiais recicláveis com os catadores e catadoras da cidade, assegurando o descarte ecológico e fazendo a diferença na vida dos trabalhadores.

Já um exemplo de circularidade puxada pela iniciativa pública é o Projeto Ligue os Pontos, que busca fortalecer a agricultura na zona rural da cidade de São Paulo conectando produtores locais dos cantos da cidade de forma a empoderar a produção local de alimentos.

 

O que as pessoas querem e como estão dispostas a se comportar?

Para que a transição para a economia circular aconteça, o professor acredita que a adoção da inovação implica em buscar entender o que as pessoas querem, desejam e como estão dispostas a se comportar, aliando também a viabilidade técnica e econômica das iniciativas.

“Inovar é essa busca constante em conseguir criar coisas iniciais, mas fazer essas coisas se transformarem em comportamento majoritário das pessoas. Essa é uma grande dificuldade, porque a gente tem vários produtos e serviços que só vão ser viáveis economicamente se escalarem, só que se a gente não escalar, elas não vão ser viáveis economicamente. Se ninguém investir, estamos brigando contra uma indústria que está em níveis ótimos de produtividade”, reforça.

Ainda de acordo com Guzzo, a transição não virá somente pelas inovações nas empresas. A mudança de políticas públicas, seja a que torne certos comportamentos menos ou mais interessantes, é extremamente importante.

“Acho que esses dois mundos, o das políticas públicas e da inovação, têm que se conversar e estarem cada vez mais próximos de modo que um entenda o outro. É importante a política pública entender o mundo da inovação e criar os gatilhos e linhas de fomento que o potencializam”, pontua Daniel Guzzo.

 

Novo Embaixador Educacional do Movimento Circular

Daniel Guzzo é doutor em Engenharia de Produção Mecânica (2020) pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. É professor licenciado no Insper, onde atua desde 2017 nas áreas de Design, Gestão da Inovação e Economia Circular. Hoje, Daniel é pesquisador de pós-doutorado na Universidade Técnica da Dinamarca, onde pesquisa potenciais efeitos rebote de iniciativas de Economia Circular. Seus trabalhos de pesquisa têm sido publicados em respeitados periódicos internacionais.

A inovação surgiu na vida do especialista antes mesmo da sustentabilidade, quando teve a experiência de, no último ano de graduação em Engenharia de Produção Mecânica (2013), pela EESC/USP, trabalhar em uma aceleradora de startups. O tema de Economia Circular solidificou-se na vida do especialista em 2017, quando foi um dos escolhidos para a Schimidt MacArthur Fellowship, programa pioneiro de inovação em Economia Circular organizado pela Fundação Ellen MacArthur.

“O maior impacto que você pode fazer é direcionar o seu trabalho para trazer mudanças positivas. Se a gente conseguir trazer para dentro do nosso trabalho esses temas que são importantes, a gente contribui para construir aquilo que achamos que é melhor”, afirma o professor.

 

 

 

Artigo do Site do Movimento Circular: https://movimentocircular.io/pt/blog/estrategias-de-inovacao-para-a-economia-circular

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