18/02/2025

Microplásticos, como o próprio nome diz, são pequenos pedaços de plástico, resultantes da degradação de pedaços maiores.

Mas o que é plástico? Plástico é uma substância sintética, feita por polímeros, que contêm hidrogênio, carbono e oxigênio, produzida a partir do petróleo e usada na fabricação de variados produtos, de vários formatos, texturas e rigidez. A maior parte dos plásticos possui alta resistência à degradação e não é biodegradável, ou seja, pode permanecer por muito tempo no ambiente.

O plástico, principal material dentre os resíduos sólidos encontrados no lixo no mar, persiste no ambiente marinho devido ao grande uso pela sociedade, relacionado ao descarte inadequado e à sua durabilidade e flutuabilidade. A quantidade de microplástico, plástico e aditivos desses materiais, nos oceanos, é absurdamente grande: são bilhões de toneladas afetando a fauna, em especial o plâncton, formado por organismos microscópicos, que são a base alimentar de peixes e mamíferos marinhos e produzem mais da metade do oxigênio da Terra, por meio da fotossíntese, o que influencia diretamente no clima.

O plástico pode ser produzido a partir de diferentes matérias-primas e possuir propriedades diferentes, em especial em relação à sua capacidade de biodegradação.

Saiba mais:

Plástico: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/prateleira-ambiental/plastico/

Como dito anteriormente, o petróleo é a principal matéria‐prima para a fabricação do plástico. Ele é constituído por diversos compostos, dentre eles a nafta, que depois de passar por uma série de processos, dá origem aos principais monômeros, como o eteno. A cana‐de‐açúcar, recurso renovável, também é usada na obtenção do monômero eteno; porém, por meio da desidratação do etanol. O poliácido láctico (PLA) é produzido a partir do ácido láctico, gerado por bactérias no processo de fermentação de vegetais ricos em amido, como a batata, a mandioca e o milho, que também são matérias‐primas renováveis. Portanto, diversos polímeros são produzidos com base em diferentes matérias-primas e por meio de diferentes processos, mas todos sem características de biodegradabilidade.

Os plásticos bioderivados utilizam a biomassa de resíduos orgânicos ou matéria orgânica produzida para essa finalidade. Porém, são mais caros de produzir do que os polímeros à base de combustíveis fósseis. E embora sejam de origem renovável, os impactos dos plásticos bioderivados no ambiente marinho são os mesmos dos plásticos derivados do petróleo. A vantagem desses materiais está no fato de não usarem fontes fósseis de carbono, o que ajuda na redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera e, consequentemente, auxilia no combate às mudanças climáticas.

Plásticos biodegradáveis são feitos para degradar, dependendo das condições às quais são submetidos. Isso quer dizer que um produto biodegradável não necessariamente se degrada nas condições existentes no ambiente marinho, as quais variam de local para local. Grande parte dos plásticos biodegradáveis disponíveis é, na verdade, compostável, ou seja, se decompõem mais rapidamente em condições como aquelas encontradas nos aterros sanitários, e essas condições não são iguais às encontradas no mar.

Muitos plásticos de origem natural foram desenvolvidos nas últimas décadas, como o amido termoplástico, que se degrada em ambiente natural e também é compostável. Isso não quer dizer que ele possa ser descartado no ambiente, porque enquanto ele estiver lá, estará causando inúmeros impactos. Essa tecnologia é uma forma de garantir que se o material for perdido no ambiente, sua permanência nele será mais curta.

Portanto, todo tipo de resíduo não deve ser descartado no ambiente e, após seu uso, deve ser reaproveitado ou reciclado, para que a matéria-prima, a energia, a água e o dinheiro utilizados na sua produção não sejam desperdiçados.

Uma questão de extrema importância é que alguns polímeros não‐biodegradáveis, como o polietileno, podem receber aditivos, o que leva a uma fragmentação mais rápida do plástico, chamada de oxidegradação. Todavia, essa fragmentação pode acelerar a formação de microplásticos e, consequentemente, liberar seus aditivos no ambiente aquático. Sendo assim, esses compostos, na verdade, não são biodegradáveis e geram microplásticos de forma mais rápida no ambiente.

Essas micro partículas de plástico ficam disponíveis na água dos mares para a ingestão por animais menores, como aqueles que vivem no plâncton ou entre os grãos de areia do sedimento marinho. Para animais maiores, como peixes, golfinhos e baleias, fica mais difícil a separação destes micro resíduos de seu alimento, o que leva à ingestão acidental. Um grave problema provocado pelo diminuto tamanho desses resíduos é a sua remoção do ambiente, que é praticamente impossível. Além disso, quanto menores são os resíduos, maior é sua mistura com outros materiais, como sedimentos.

Em razão da importância do seu tamanho, os resíduos sólidos são classificados em uma escala de tamanhos, em especial, para os itens de plástico: microplásticos são os resíduos com tamanhos inferiores a 5 milímetros; mesoplásticos são os resíduos com tamanhos entre 5 e 25 milímetros; macroplásticos são os resíduos com tamanhos maiores que 2,5 centímetros; e megaplásticos são os resíduos maiores que 1,0 metro. Os microplásticos são também classificados em primários ou secundários. Os microplásticos primários (ou pré‐consumo) são partículas entre 2 e 5 milímetros de diâmetro, que são a matéria‐prima utilizada pela indústria do plástico. São encontrados nessa categoria os grânulos plásticos, também chamados de pellets. Eles costumam ser transportados em sacos ou a granel, em caminhões, e é nesse momento que podem acontecer pequenas ou grandes perdas. Os microplásticos secundários (ou pós‐consumo) são derivados de itens que foram produzidos para uma certa finalidade, como, por exemplo, embalagens de alimentos, canudos e garrafas, que, por terem sido descartados de forma inadequada, quando chegam ao ambiente marinho são fragmentados pela ação das ondas, sol ou microrganismos, e geram os microplásticos, compostos por fragmentos de formatos variados. Os microplásticos secundários podem ser gerados, também, pela liberação de fibras de tecidos sintéticos ao serem lavados, que chegam aos rios e mares. Ainda estão nessa categoria as esferas esfoliantes de plástico, com dimensões de 10 micrômetros, utilizadas em produtos de higiene e cosméticos, que, após o uso, são descartadas nas redes de esgoto. É fundamental fazer essa distinção entre microplásticos primários e secundários, para diagnosticar as formas de entrada desses materiais no ambiente marinho e estudar maneiras de combater esse grave problema.

O combate aos microplásticos primários envolve ações ligadas à cadeia produtiva da indústria plástica, além das atividades portuárias e comerciais, podendo‐se reduzir a perda para o ambiente com medidas de gestão e logística. A geração dos microplásticos secundários envolve produtores, comerciantes, consumidores e a gestão de resíduos sólidos nos municípios e seu combate deve envolver tanto a prevenção da chegada do resíduo ao ambiente marinho, como a retirada dos resíduos do mar, antes que se fragmentem.

Outra fonte importante de microplásticos é a degradação da borracha dos pneus de veículos usados nas ruas e estradas das cidades: o desgaste dos pneus solta partículas, que se acumulam no piso e são carregadas pelas chuvas para a rede de águas pluviais e, consequentemente, para os rios e o mar.

Estudos descobriram que partículas minúsculas de plástico já foram localizadas no corpo humano, no sangue, no coração, no fígado, nos intestinos, nos pulmões, nos testículos, no cérebro, na placenta e até no leite materno. Não se sabe os danos que isso pode causar na saúde das pessoas a longo prazo.

Animais marinhos de interesse comercial, que são consumidos inteiros pelas pessoas, incluindo o trato gastrointestinal, como, por exemplo, mexilhões e ostras, podem ser vetores de transferência de microplásticos e poluentes que esses plásticos possam ter adsorvido. Embora as pessoas possam se contaminar dessa forma, seus efeitos ainda são desconhecidos e acredita-se que a principal via de assimilação de microplásticos pelo ser humano se dê por meio da respiração de partículas ou ingestão, à medida em que elas se depositam no alimento que ingerem.

Os microplásticos também podem se acumular sobre diversos organismos e dificultar sua alimentação e locomoção. Os plásticos nas escalas micro e nanométricas (1nm = 0,000001mm) são tão pequenos que podem ser transportados do tubo digestório para as células sanguíneas e, dessa forma, atingir outros tecidos do organismo, provocando efeitos tóxicos em decorrência dos aditivos e outros poluentes adsorvidos em sua superfície. Já foram observados sinais de inflamação e de estresse em invertebrados marinhos por causa da exposição e ingestão de microplásticos, confirmados pela existência de danos biológicos em níveis celulares. Esses impactos celulares podem comprometer o desenvolvimento dos organismos, seu crescimento e sobrevivência. No caso das algas, o microplástico pode impedir a realização da fotossíntese. Além disso, microplásticos são praticamente impossíveis de serem retirados dos oceanos, portanto, sua geração deve ser combatida intensamente.

 

 

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Texto: Denise Scabin – CEA/SEMIL

Gestão de conteúdo, planejamento e arte: Cibele Aguirre – CEA/ SEMIL

 

 

 

Referências

São Paulo. Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Lixo nos Mares: do entendimento à solução. São Paulo, 2020.