Apesar de sua importância histórica, cultural, econômica e ambiental para o Estado de São Paulo, o Rio Tietê enfrenta hoje uma série de pressões que comprometem sua saúde e sua capacidade de sustentar a vida. O crescimento populacional e o desenvolvimento urbano e industrial, sobretudo na Região Metropolitana de São Paulo, aumentaram a carga de poluentes e modificaram profundamente a dinâmica natural da bacia. Em trechos antes usados para lazer, pescarias e competições de natação no início do século XX, vemos hoje água escura, odores característicos e biodiversidade reduzida — um triste contraste com o potencial natural do rio.
Entre os fatores que mais impactam o Tietê estão o lançamento de esgoto doméstico sem tratamento e de efluentes industriais com contaminantes, que alteram a disponibilidade de oxigênio dissolvido e afetam a vida aquática. A ocupação desordenada das margens, especialmente sobre as várzeas (áreas de alagamento natural), e a supressão de matas ciliares eliminaram barreiras naturais contra a erosão e as cheias, ampliando o risco de inundações e a vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas. Nas áreas rurais e de cabeceiras, o desmatamento e práticas agrícolas inadequadas intensificam a erosão e o assoreamento: o solo carreador reduz a profundidade e a vazão do rio, prejudicando o equilíbrio ecológico. Em períodos secos, a captação excessiva de água para abastecimento, irrigação e indústria agrava a escassez e concentra poluentes, enquanto a impermeabilização do solo nas cidades acelera o escoamento das chuvas, aumenta o carreamento de contaminantes e intensifica enchentes.
A esses problemas somam-se o descarte inadequado de resíduos sólidos, que obstrui galerias e prejudica a fauna; a introdução de espécies exóticas e a pesca predatória, que desorganizam cadeias alimentares e reduzem estoques; o aporte de agroquímicos e nutrientes, favorecendo a eutrofização (desenvolvimento excessivo de algas); e a fragmentação de habitats por desmatamentos, que prejudicam fluxos ecológicos e ciclos de vida. As mudanças climáticas agravam esse quadro, alterando o regime de chuvas, intensificando secas e tempestades e elevando a variabilidade de vazões, com impactos diretos na qualidade e na quantidade de água disponível.
As consequências são visíveis: trechos com água turva e malcheirosa, redução de vida aquática em segmentos metropolitanos, aumento de enchentes e alagamentos devido à ocupação irregular e à impermeabilização do solo, redução da capacidade de autodepuração do rio e perdas econômicas e sociais ligadas à saúde pública, ao lazer, à pesca, à navegação e à segurança hídrica. Ainda assim, o Tietê mantém um potencial de recuperação que depende de ação coordenada e persistente.
Recuperar o Tietê é um compromisso coletivo que envolve poder público, setor privado, academia, organizações da sociedade civil e cada cidadão. Isso passa por universalizar e qualificar o saneamento básico, com coleta e tratamento de esgoto e gestão rigorosa de efluentes industriais; proteger e restaurar matas ciliares e nascentes, promovendo práticas agrícolas conservacionistas; ordenar a ocupação das margens e respeitar áreas de várzea, adotando soluções baseadas na natureza para reduzir enchentes; melhorar a gestão de resíduos sólidos, combatendo o descarte irregular e ampliando reciclagem e educação ambiental; promover o uso racional da água em residências, indústrias e no campo; fortalecer a fiscalização, o monitoramento da qualidade da água e a transparência dos dados; e integrar adaptação e mitigação climática à gestão da bacia. Ao reconhecer os desafios e agir com continuidade e colaboração, podemos devolver ao Rio Tietê suas funções ecológicas e sociais, transformando-o novamente em um patrimônio vivo que sustenta vidas, economias e culturas — hoje e no futuro.
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SP 24/09/25
Texto: Tiago Petri – DEA/SEMIL
Revisão de Texto: Denise Scabin – DEA/SEMIL
Gestão de conteúdo, planejamento e arte: Cibele Aguirre – DEA/ SEMIL