
30/05/2023
Saúde Única, como conceito de política pública, tem por doutrina uma abordagem múltipla, que preza uma perspectiva preventiva e sustentável, na associação tripla da saúde humana, animal e ambiental, pois, para ter bem-estar e qualidade de vida, é preciso investir nos 4 (quatro) principais pilares da saúde: nutrição, movimento, autocuidado e saúde emocional.
Segundo o entendimento publicado pelo Governo Federal: “A Saúde Única é uma abordagem dada à saúde pública, com uma visão ‘global multisetorial, transdisciplinar, transcultural, integrada e unificadora, que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e ecossistemas.’ Reconhece que a saúde de humanos, animais domésticos e selvagens, plantas e o meio ambiente (incluindo ecossistemas) estão intimamente ligados e são interdependentes’.
Deste modo, a Saúde Única pode ser definida como esforço colaborativo multidisciplinar, atuando em nível local, nacional e global para garantir saúde ótima para o homem, os animais e o meio ambiente. Sendo assim, ao reconhecer a interconexão entre pessoas, animais, plantas e meio ambiente compartilhado, para isto mobilizando vários setores, disciplinas e comunidades, em diferentes níveis da sociedade para trabalhar em conjunto, a saúde única é a política pública que visa a promover o bem-estar e enfrentar ameaças à saúde e aos ecossistemas.
Entre vários aspectos, aborda a necessidade coletiva de água limpa, energia e ar, alimentos seguros e nutritivos, agindo sobre as mudanças climáticas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
A saúde única, também conhecida por “One Health”, é um campo de conhecimento multiprofissional e interdisciplinar, que se refere a problemas e questões de saúde que transcendem as fronteiras nacionais, assim como seus determinantes e possíveis soluções, para os problemas complexos na interface humano-animal-ambiente, que podem ser melhor resolvidos, por meio da comunicação, cooperação, complementação, coordenação, organização e colaboração multidisciplinar.
Na Pesquisa
É inegável a importância da avaliação conjunta, sob a perspectiva dos três pilares, saúde humana, animal e ambiental, na tomada de decisão sobre temas acerca de saúde pública, ou seja, na perspectiva de Saúde Única.
No âmbito da pesquisa, conforme publicação da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ‘o conceito de Saúde Única ou One Health’, é uma abordagem ainda recente na ciência e com tendência de consolidação integrando diferentes áreas e equipes para a busca de respostas aos problemas mais relevantes da sociedade e do ambiente, especialmente após a ocorrência da epidemia global do SARS-CoV-2.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) promove a abordagem de Saúde Única em trabalhos sobre segurança alimentar e agricultura sustentável. É essencial ao progresso de antecipar, prevenir, detectar e controlar doenças, que se propagam entre animais e humanos, combater a resistência de microrganismos, garantir a segurança alimentar, prevenir ameaças à saúde humana e animal relacionadas ao meio ambiente, bem como combater outros desafios, tal como erradicar a tuberculose no gado ou reduzir a raiva na vida selvagem, leva-se em conta a interação de humanos, animais e o mundo natural que compartilham. Outro exemplo da importância da aplicação do conceito de Saúde Única na ciência está associado às perdas contínuas de biodiversidade, com a crescente emergência climática associada com a diminuição da biodiversidade, em que a ciência precisará empregar uma ousada mudança de paradigma, quando os fatores climáticos e ambientais deverão ser parte integrante dos modelos e planos econômicos.
É importante compreender os fatores de risco, incluindo contextos socioeconômicos e culturais e desenvolver capacidades em nível regional, nacional e local para uma melhor coordenação e compartilhamento de informações entre instituições e partes interessadas.
O termo Saúde Única não é novo, é uma evolução do termo Medicina Única (One Medicine), adotado ainda no século XIX. Entretanto, recentemente a utilização do conceito de saúde única ganhou impulso devido à crescente ocorrência de doenças infecciosas emergentes, exigindo ações de saúde única voltadas, sobretudo, para a vigilância e as medidas preventivas, incluindo os estudos sobre as doenças emergentes e reemergentes, que auxiliam nas tomadas de decisão para o efetivo controle das afecções em humanos e animais. Neste contexto, a Biosseguridade, que é um termo usado para abarcar todos os aspectos da prevenção da entrada e da disseminação de agentes causadores de doenças em um rebanho, soma-se ao conceito de Saúde Única.
Para essas decisões, considera-se a tríade epidemiológica, que é a interação entre patógeno, população e meio ambiente, uma abordagem fundamental para, por exemplo, o controle de casos de doenças, a contenção de epidemias e prevenção de zoonoses.
Nestas situações formam-se ciclos, no quais doenças podem voltar a retratar a questão da resistência bacteriana, bem como o surgimento de patógenos emergentes, como o atual cenário da epidemia das arboviroses (dengue, zika e chikungunya), no Brasil, devido ao desequilíbrio das partes.
No âmbito dos descuidos humanos para com o meio ambiente e com os animais, podemos citar inúmeros casos; um deles é o descarte incorreto de medicamentos e os problemas decorrentes desse descarte, que ‘podem variar desde a emergência de bactérias resistentes, devido ao estabelecimento de um ambiente de pressão seletiva favorável para as bactérias pelo descarte incorreto de antibióticos, até a alteração da fisiologia normal de animais, devido ao consumo exacerbado dessas substâncias, bem como a contaminação de solo e água, no caso dos danos ao ambiente’.
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Referências
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Saving lives by taking a one health approach: connecting human, animal, and environmental health. [Washington, DC]: National Center for Emerging and Zoonotic Infectious Disease, 2022. Disponível em: https://www.cdc.gov/onehealth/pdfs/OneHealth-FactSheet-FINAL.pdf. Acesso em: 06 abr. 2022.
FAO. One health. [Rome, 2021]. Disponível em: https://www.fao.org/one-health/en Acesso em: 07 abr. 2022.
ROQUE, B. M.; VENEGAS, M.; KINLEY, R. D.; NYS, R. de; DUARTE, T. L.; YANG, X.; KEBREAB, E. Red seaweed (Asparagopsis taxiformis) supplementation reduces enteric methane by over 80 percent in beef steers. PLoS ONE, v. 16, n. 3, p. e0247820, 2021. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0247820
UNITED STATES. Department of Agriculture. Animal and Plant Health Inspection Service. One health home. [Washington, DC], 2022. Disponível em: https://www.aphis.usda.gov/aphis/ourfocus/onehealth. Acesso em: 05 abr. 2022.
Sites:
Ministério da Saúde – Saúde Única
Embrapa – Abordagem de saúde única na pesquisa.
Embrapa – Saúde Única: O conceito abrangente e definitivo
DescartUFF – Saúde única – Abordando uma perspectiva preventiva e saudável
Jornal da USP – O descarte incorreto de medicamentos pode contaminar o meio ambiente
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Texto – Rozélia Medeiros – CEA/ SEMIL
Revisão – Denise Scabin – CEA/ SEMIL
Gestão de conteúdo e planejamento – Cibele Aguirre – CEA/ SEMIL