
17/06/2015
A voz do locutor Josevaldo Barbosa de Moraes, da Rádio Voz do Morro, convoca a comunidade para mais um plantio de mudas na Cota 200. O reflorestamento da Serra do Mar é uma das muitas atividades que envolvem os moradores daquele bairro, principalmente as crianças. Elas participam do plantio sob o olhar atento das educadoras ambientais Nini Luferly e Fátima Regina da Cunha, que diz: “Aqui, as crianças plantam e separam o lixo para a reciclagem. Com isso, aprendem sobre a importância desses atos para o seu futuro e, sobretudo, para o da floresta”.
Além da rádio, o Projeto COMCOM (Rede Comunitária de Comunicação) mantém os moradores informados também por meio da TV Comunitária e do Jornal Morro Vivo. O COMCOM é um projeto que, em sua essência, busca o despertar da comunidade dos bairros-cota de Cubatão para interagirem e se comunicarem. Frequentemente, a equipe ministra oficinas de rádio, jornal e TV que formam futuros repórteres, locutores e cinegrafistas que darão continuidade aos projetos da COMCOM.
A Mata Atlântica fornece matéria-prima e inspiração para os integrantes do Ateliê Arte nas Cotas, instalado na rua do Alojamento, 160, Fabril, Cubatão-SP. Márcia da Silva Lima conta que escolhe os motivos para a estampa das camisetas na rica flora da mata. “Aqui tudo é bonito.” A ideia inicial do ateliê foi realizar os trabalhos de arte por meio de duas linguagens: cerâmica e pintura mural (técnica de estêncil). Mas a criatividade dos participantes foi além e muitas outras peças passaram a ser criadas.
Quem visita hoje a lojinha do ateliê pode levar para casa, entre outras peças, vestidos, chinelos, camisetas, panos de prato e bloquinhos de anotações. Quem conta é a designer Inês Prado, que ao lado de Maria José de Araújo Silva, comanda uma equipe de 15 pessoas que produz todo esse material. “Além da lojinha, nossos produtos são comercializados em feiras em Cubatão e até mesmo em feiras tradicionais do Butantã e da Vila Madalena, em São Paulo. A produção dobra em datas como o Dia das Mães e Natal”.
A paisagem da Serra do Mar começou a ser transformada entre 1930 e 1945 com a construção da via Anchieta. Além da estrada, data daquele período, o início da ocupação desordenada dos bairros-cota, que foram por décadas sendo edificados nas encostas e grotões da serra, sem nenhuma infraestrutura.
Essa paisagem começou a ser modificada em 2007, com a implantação do Programa Recuperação Socioambiental da Serra do Mar e Mosaicos da Mata Atlântica pelo governo do Estado de São Paulo que contou, a partir de 2010, com a adesão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O objetivo foi realocar moradores dos bairros-cota que lá viviam em áreas de risco geotécnico e do interior do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM).
Nestes oito anos, muita coisa mudou para as mais de cinco mil famílias que foram morar em novos bairros dotados de toda a infraestrutura. As que ficaram nos bairros Cota 200 e Pinhal do Miranda também vivem em local totalmente urbanizado, com água encanada, saneamento, pavimentação e mais: projetos sociais como o Ateliê Arte nas Cotas, o Nesdel – Núcleo de Economia Solidária e Desenvolvimento Local e o Projeto COMCOM, que contam com o apoio da CDHU por meio do Departamento de Ações de Recuperação Urbana.
Roque Bispo Costa Sobrinho conta que seu pai chegou à região nos anos 1940 para trabalhar na construção da via Anchieta. Ele nasceu no Cota 200 e, atualmente, é um dos líderes da comunidade. “Eu nasci, cresci e convivi com todo tipo de problemas. Houve épocas em que fomos castigados por enchentes que destruíram nossas casas e a paisagem. Hoje tudo mudou. O pessoal do ateliê deixou a fachada de nossas casas mais bonitas com sua arte e a mata está se recompondo”. A artesã Maria José de Araújo é outra moradora que fala com orgulho de seu trabalho no bairro. “Minha vida toda foi aqui, onde me casei criei meus filhos. Com toda essa arte, não penso em ir embora daqui”.
O trabalho coletivo dessa comunidade vai, com certeza, devolver à Serra do Mar a paisagem “cartão postal” que estava um tanto desbotada. As sementes foram plantadas. É uma questão de tempo. A natureza agradece.