
19/06/2015
Um grupo de cinco botânicos acaba de retornar de uma expedição de cinco dias pela mata atlântica do estado de São Paulo. O intuito da equipe, formada por especialistas do Instituto de Botânica e do Museu de História Natural de Paris, era refazer o percurso da segunda viagem do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, realizada em 1822.
Essa primeira missão faz parte de um projeto maior visando, nesta fase, buscar e coletar espécies de flora ao longo do percurso, de forma a permitir o que os especialistas chamam de comparação diacrônica, ou seja, comparar o que existia há 200 anos com o que existe agora. Por meio dessa metodologia, será possível verificar o que aconteceu com a biodiversidade ao longo do tempo.
Estamos de fato perdendo biodiversidade? Em caso positivo, de que forma? Espécies desapareceram ou se adaptaram ao crescimento dos espaços urbanos? Quais as dimensões do impacto das atividades humanas na região e seu reflexo na biodiversidade? Este projeto auxiliará na elucidação desses e de outros questionamentos sobre o tema.
Na primeira expedição de 2015, o percurso dos botânicos foi o da segunda viagem de Saint-Hilaire (1822), entrando no estado de São Paulo por Minas Gerais, pela Garganta do Embaú, na Serra da Mantiqueira, percorrendo então todo o Vale do Paraíba, Guararema, Mogi das Cruzes e cruzando o município de São Paulo, para então chegar a Bananal pela Estrada dos Tropeiros. O mapa a seguir ilustra todas as regiões percorridas por Saint-Hilaire no Brasil e destaca o trecho que foi percorrido pelos botânicos :
Diálogos sobre biodiversidade
Uma mesa-redonda intitulada “O herbário de Saint-Hilaire: Reflexões sobre a evolução da biodiversidade na Mata Atlântica de 1816 a 2015” foi realizada na terça-feira (16/6) , no salão nobre da Secretaria Estadual da Educação. O evento aconteceu no âmbito do acordo de cooperação científica entre o estado de São Paulo e a região de Île-de-France.
Na oportunidade, os botânicos Marc Pignal e Marc Jeanson, do Museu de História Natural de Paris e Sergio Romaniuc, do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, apresentaram ao público um pouco sobre a experiência com a primeira expedição realizada e sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido com o Herbário de Saint-Hilaire. O público interagiu de forma bastante positiva e muitas ideias para futuros possíveis projetos surgiram.
“Para mim, Saint-Hilaire é um naturalista brasileiro, porque ele aprendeu muito do que divulgou sobre biodiversidade aqui no Brasil”, destacou o francês Marc Pignal.
Para Sergio Romaniuc, uma das maiores contribuições deste projeto é poder propor um “método de trabalho para estimar de fato a perda da biodiversidade”. Ele evidenciou que ao longo da recente expedição, muitas das espécies encontradas no século XIX por Saint-Hilaire estão sendo reencontradas. “Elas se adaptam. A flora evolui naturalmente no espaço, ao longo do tempo. (…) Precisamos entender como a flora está ocupando a paisagem”, destacou.
Para Romaniuc, outra questão muito importante sobre esse processo é o fato de se estar fazendo o repatriamento das informações do Brasil. “A coleção de Saint-Hilaire é essencial para o Brasil, principalmente para o sudeste. Esse intercâmbio com Île-de-France é fundamental para que possamos resgatar essas informações”.
Também destacou-se que o Herbário Virtual de Saint-Hilaire já está servindo como inspiração para outros projetos de repatriamento de informações e dados científicos. Como exemplo, temos o programa Reflora/CNPq, do governo federal, que teve o projeto de Saint-Hilaire como inspiração. O Reflora visa resgatar imagens dos espécimes da flora brasileira e das informações a eles associadas, coletados nos séculos XVIII, XIX, e parte do século XX por naturalistas e botânicos que coletavam as amostras vegetais e as remetiam aos herbários europeus.
Saint-Hilaire e sua coleção
Saint-Hilaire foi um dos pioneiros no estudo da biodiversidade brasileira. Em suas expedições realizadas no Brasil entre 1816 e 1822, coletou inúmeras espécies de flora que estão fisicamente depositadas no Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris e no Institut des Herbiers Universitaires de Clermont-Ferrand, ambos na França.
Hoje é possível ter acesso aos dados bibliográficos, notas de campo, mapas, ilustrações e imagens em alta resolução dos espécimes da coleção do francês por meio do Herbário Virtual de Saint-Hilaire. Leia mais sobre isso nessa matéria.
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