
16/09/2015
A área original de ocorrência do Cerrado no estado de São Paulo é 9.980.135 hectares (ha), ou seja, 40,1% do território paulista. Os remanescentes de Cerrado em São Paulo somam: Cerrado – 96.994 ha; Cerradão – 121.039 ha. Isto é, total de 218.034 ha, ou 2,2% da área de ocorrência original, e 0,9% do território paulista. Em unidades de conservação de proteção integral encontram-se 17.792 ha de Cerrado protegidos, ou seja, 8,2% dos remanescentes, e 0,2% da área original de ocorrência.
Esse dado, do Inventário Florestal do Estado de São Paulo – produzido pelo Instituto Florestal -, foi divulgado pela secretária adjunta do Meio Ambiente, Cristina Maria do Amaral Azevedo(Kitty), na abertura de evento Falando do Cerrado, realizado no dia 15 de setembro, no auditório da Secretaria do Meio Ambiente (SMA). O evento reuniu a exposição de fotos “Cerrado – imagens de uma paisagem ameaçada”, palestras e uma mesa-redonda com especialistas sobre o bioma.
Sobre a exposição de fotos, registradas por pesquisadores do Instituto Florestal, o Dr. João Batista Baitello, um dos expositores, comentou: “Trata-se de retratação de flores, frutos e fauna do bioma Cerrado, em comemoração ao Dia Nacional do Cerrado, 11 de setembro de 2015. A exposição mostra imagens desse bioma, um dos hotspots planetários, pois é dotado de expressiva diversidade, alto índice de endemismo e severamente ameaçado. Sua biodiversidade e quimiodiversidade são reconhecidas não só como meio de subsistência de populações locais, mas também como a base para o desenvolvimento biotecnológico.”
As palestras – com debate ao final – foram: “Bioma Cerrado: o fogo e a biodiversidade” – Prof. Dr. Leopoldo Coutinho (USP); “O que podemos dizer sobre a conservação do cerrado?” – Prof.ª Dr.ª Vânia Pivelo (USP); “Avifauna da Estação Ecológica Itirapina e sua conservação: um estudo de caso em UC no interior paulista” – Prof. Dr. José Carlos Motta Jr. (USP); e “Ecologia e conservação de anfíbios e répteis no Cerrado: estudos de caso e perspectivas” – Prof. Dr. Marcio Martins (USP).
Entre outras informações importantes apresentadas nas palestras, o prof. Leopoldo Coutinho destacou alguns dados interessantes e, conforme ele mesmo ressaltou, pouco conhecidos pela maioria: “O Brasil é um dos países mais ricos em biomas do mundo, se devendo isto em grande parte às suas dimensões que, ao norte ultrapassam o equador e ao sul, o Trópico de Capricórnio, estendendo-se desde o Atlântico até o centro do continente sul-americano. Isto condiciona diferentes tipos climáticos em suas distintas regiões. Sendo o clima o principal fator determinante da vegetação, seguido pelas condições edáficas, é de se esperar, portanto, que o Brasil seja detentor de uma grande diversidade biológica, não apenas em termos de número de espécies, mas também em quantidade de biomas. Ao contrário do que se divulga, no Brasil encontramos nada menos do que 16 tipos de biomas e não apenas seis. O Cerrado, ao lado das Caatingas Nordestinas e das Campinaranas Amazônicas, é um bioma de savana, que se caracteriza pelo clima tropical estacional, com chuvas no verão e seca no inverno. Sua vegetação apresenta-se como um mosaico de fisionomias, que vão do campo limpo ao cerradão, passando pelo campo cerrado e cerrado sensu stricto“.
O especialista ainda teceu algumas considerações fundamentais sobre o papel do fogo no Cerrado: “O fogo, que pode ser natural ou antrópico, é responsável em boa parte por esse mosaico. As fisionomias mais abertas de cerrado são altamente tolerantes e até mesmo dependentes desse fator. Já as fisionomias mais fechadas, como o cerradão, sofrem com a sua incidência mais frequente. As queimadas abrem os cerradões, transformando-os em campos cerrados e campos limpos. Para mantermos um máximo de biodiversidade é aconselhável que o manejo do fogo seja adequadamente implementado em nossas unidades de conservação, impedindo que, com o tempo, tudo se transforme em cerradão, por um lado, ou em campo limpo, por outro. O manejo do fogo é uma prática adotada com sucesso em outras savanas, como na África do Sul e na Austrália”.
O fogo foi um dos assuntos mais comentados durante o evento. Os palestrantes foram unânimes em reforçar a importância do manejo correto e acompanhado do elemento no cerrado. “É preciso se antecipar ao fogo natural, para não perder o controle. Um dos maiores problemas do Cerrado é a alteração do regime do fogo. Metade do Cerrado já não existe mais”, destacou a Prof.ª Vânia Pivelo.
Outro tópico comentado durante as palestras foi a biodiversidade e a extinção de animais do Cerrado. Muitas espécies são endêmicas desse bioma e estão correndo risco de extinção devido à situação das áreas, principalmente pela utilização incorreta do fogo e por existirem caçadores nos locais. De acordo com o Prof. José Carlos Motta Jr, existem muitos caçadores na área e a solução é intensificar a fiscalização.
Importante destacar que provocar incêndio e caçar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, é crime, previsto na Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (lei de crimes ambientais), passível de detenção e multa.
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