18/03/2016
Quem, quando criança, brincou na rua, subiu em árvores e comeu fruta do pé, com toda certeza já experimentou daquelas pequenas frutas parecidas com goiabinhas. Caso contrário, ainda é tempo de experimentar. Se olhar bem (procurar bem), é possível encontrar algum pé de araçá pela cidade, plantado em algum parque ou praça, em algum jardim ou quintal, até mesmo em algum vaso numa sacada qualquer.
Fato é que o Araçá já foi muito popular na São Paulo dos Campos de Piratininga. Haja vista o Cemitério do Araçá, que deve seu nome por conta de estar localizado na antiga Estrada dos Araçás, chamada assim em razão da planta abundante existente na região.
Pertencente à família das Mirtáceas, a mesma da goiaba e da jabuticaba, o araçá tem variadas espécies no Brasil. Temos o araçá-vermelho (Psidium cattleianum), o araçá-do campo (Psidium guineense), o araçá-verde (Psidium rufum), o araçá-cinzento (Psidium cinereum) e outros mais, presentes nas várias regiões e biomas brasileiros.
Árvore de pequeno porte, mas de grande importância. As raízes têm propriedades antidiarreica e diurética. A casca pode ser usada para o curtume e a madeira empregada na fabricação de engradados, cabos de ferramentas, lenha e carvão. O óleo extraído de suas folhas pode auxiliar no tratamento a diarreias, como também, devido à sua ação antibiótica, ser usado no combate às bactérias.
Suas flores são brancas e seus frutos, que variam da cor amarela a vermelha, são comestíveis. Aliás, eles são ricos em cálcio, ferro, fósforo, vitaminas A, B, C, antioxidantes, carboidratos e proteínas, indicados contra gripes e resfriados e até ansiedade.
Apesar de tantos atributos, algumas espécies de araçá figuram na lista da flora do estado de São Paulo ameaçada de extinção. Em tupi, araçá significa ‘fruta que tem olhos’, mas somos nós que devemos manter os nossos olhos bem abertos a fim de protegê-lo.
Um alento à preservação é saber que espécies de araçá têm sido utilizadas em projetos de arborização urbana e em projetos de recomposição de mata ciliares, como no Programa Nascentes.
Vale lembrar: espécie nativa é aquela natural de determinado ecossistema ou região enquanto espécie exótica é aquela levada pelo homem em determinado local. Assim, o araçá espécie nativa no Brasil torna-se exótico se levado para outras partes do planeta, causando muitas vezes sérios riscos à flora local. Deste modo, nosso inocente araçá Psidium cattleianum, introduzido como árvore frutífera, resultou numa verdadeira praga em ilhas do arquipélago do Havaí, dominando florestas nativas e gerando um custo muito alto anual para sua remoção. O mesmo ocorreu na Ilha de Reunião, pertencente às Ilhas Mascarenhas, no Oceano Índico. Assim, antes de ceder a tentação de levar “uma mudinha”, procure saber o impacto que poderá causar.
Texto: Cris Leite
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