25/08/2017

Texto: Luciana Reis

Fotos: Dirceu Rodrigues

A agrofloresta já é uma realidade no Brasil e no mundo. África, Vietnã, Ruanda, Nepal, Indonésia, Filipinas, Peru e Índia são alguns exemplos de países que estão em busca de um modelo sustentável de produção. A necessidade de produzir mais em espaços menores, as mudanças climáticas, a urgência em regenerar florestas e impulsionar a agricultura familiar são as razões pelas quais o tema vem ganhando espaço cada vez maior nas agendas de governos e organismos internacionais. Desde 2013, por exemplo, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apoia a criação de políticas públicas para a agrofloresta.

O tema Sistemas Agroflorestais (SAFs) também entrou na pauta do IX Encontro Paulista de Biodiversidade (EPBio), na Secretaria do Meio Ambiente, realizado nos dias 22 e 23 de agosto. “O sistema de agrofloresta é um dos poucos que consegue conciliar os objetivos de conservação com os de produção. Por isso precisamos de política e de governança”, explicou Andrew Miccolis, do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal – ICRAF Brasil, ao compartilhar sua experiência com SAF em outros países durante sua palestra no IX EPBio.

Para Andrew Miccolis, do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal, a agrofloresta exige política e governança

O desafio atual é dar escala aos sistemas agroflorestais, mas os obstáculos ainda são muitos, como recursos financeiros, capacitação, resistência de agricultores e até mesmo a falta de informações adequadas sobre os benefícios na propriedade.

Em terras paulistas, os sistemas agroflorestais tiveram apoio da Secretaria do Meio Ambiente com o Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS). Foram implantados 21 sistemas agroflorestais, que beneficiaram 587 agricultores em 602 hectares. “O SAF tem mudado a percepção do agricultor em relação ao estado, que agora passou a ser visto como parceiro”, explicou Neide Araújo, coordenadora do PDRS, na Secretaria do Meio Ambiente.

Entre os resultados é possível observar o fortalecimento das organizações, a regularidade ambiental, a recuperação da terra e da biodiversidade local, a viabilização de diferentes cultivos, ganhos na qualidade dos alimentos a baixo custo de produção e, ainda, a conquista de certificação, de novos mercados e de parcerias.

A SMA tem outras iniciativas para a produção sustentável, como o Protocolo de Intenção de Transição Agroecológica e Produção Orgânica, em parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) e o Instituto Kairós. A ideia do protocolo é estimular a adoção de práticas agrícolas sustentáveis por agricultores que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, incrementando a produção, a oferta e o consumo de alimentos saudáveis.

Até o momento o protocolo soma 50 adesões, com 20 produtores certificados e 30 em processo de certificação.

Comunidades tradicionais

O EPBio contou ainda a experiência da Comunidade dos Quilombolas de Nhunguara, no Vale do Ribeira, que participou do Subprojeto Ambiental do PDRS – Microbacias II – Acesso ao Mercado: Melhorias Produtivas e Inovações no Viveiro de Mudas da Comunidade Remanescentes de Quilombo do Bairro Nhunguara.

Entre as conquistas, a comunidade conseguiu a estruturação do viveiro, aquisição de bens de apoio, organização das atividades do grupo, ampliação da capacidade de produção anual e melhoria da fitossanidade das mudas.

“Aprendemos que é possível aliar desenvolvimento rural e preservação ambiental, desenvolver habilidades mesmo em uma cultura tradicional. Ao valorizar a Mata Atlântica agregamos valor às atividades”, contou Liliane Vieira da Mota, da Comunidade Quilombola do Nhunguara.

Envolver os povos tradicionais no PDRS – Microbacias II foi uma exigência do Banco Mundial. Com investimento de R$ 10 milhões, foram desenvolvidos 51 projetos comunitários (40 quilombolas e 11 indígenas).

Para Alex Mimbi da Silva, da Associação Tembiguai – Aldeia Indígena Boa Vista do Pru Mirim, participar dos projetos do PDRS trouxe novos horizontes. “Conseguimos comprar ferramentas para facilitar nosso trabalho e temos planos de comercializar a pupunha que plantamos. Nos fortalecemos como cooperativa e percebemos que é possível.”

Alex Mimbi, da Aldeia Boa Vista do Pru Mirim, onde se pratica o desenvolvimento sustentável: o plano agora é criar cooperativa