21/05/2018

Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira recebeu encontro espeleológico na semana de comemorações

Na noite de quinta-feira, 17, o burburinho do Mangarito, restaurante local que serve de quartel-general para as comemorações, é brevemente interrompido por um rojão solitário. O município de Iporanga, com seus quase cinco mil habitantes, também está comemorando. Afinal, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) está intrinsecamente ligado à população local. Os serviços turísticos respondem por mais da metade de sua economia.  

Em uma disputada roda de conversa, Rodrigo Aguiar, gestor do parque, destaca as novas possibilidades do PETAR, com o plano de manejo aprovado. “Ainda são muitos os desafios que enfrentamos, mas agora, com esse plano de manejo, temos um guia para direcionarmos nossos esforços. Poderemos estudar e implementar novas rotas turísticas, assegurando que tudo seja mantendo a sintonia do uso público, a preservação e a pesquisa nas nossas áreas.”

Camisetas, adesivos, canecas estão na mesa à venda. O artesanato, o comércio, com suas paredes pintadas com animais, tudo parece atrelado às cavernas e à paisagem da mata atlântica. No cardápio do bar, “leite de morcego” e “leite de onça” são os aperitivos disputados pelos curiosos. Grupos retornam dos passeios e estudantes cansados juntam suas coisas. Ainda restam dois dias de atividades.

Caverna de Santana

“Você não conheceu Iporanga, ou o Petar, se não entrou em pelo menos uma caverna…” afirma o monitor ambiental da Fundação Florestal, Paulo dos Santos, antes de passar os procedimentos e equipamentos necessários para o passeio na caverna. Calças, sapatos fechados, capacetes com lanterna e uma regra guia: prudência. Evitar encostar ou pisar em áreas fora da trilha, uma vez que o ecossistema da caverna é delicado e construído lentamente durante milênios. Ele está nervoso, não pelo passeio, mas pela gravação do especial para o Repórter Ambiental, programa em vídeo que destaca as atividades do Sistema Ambiental Paulista.

Muita gente não sabe, mas o estado de São Paulo abriga a segunda maior concentração de cavernas de todo o mundo, são  480 cadastradas dentro de seu perímetro. Berço da espeleologia no estado, o PETAR apresenta grande importância histórica, cultural e natural que deu aos primeiros exploradores a motivação para se aventurar e estudar as cavernas em seus diversos aspectos, além da fauna e da flora exuberantes da Mata Atlântica nativa.

O monitor Paulo ilumina uma coluna na Caverna de Santana

A Caverna de Santana é o percurso mais disputado do parque. Possui fácil acesso, está a poucos metros do centro de visitantes, conta com uma variedade de salões e atrativos e é considerado um percurso fácil. O trecho aberto para visitação possui cerca de 600 metros e leva, em média, duas horas para ser percorrido. São muitas as pausas para explicações e exibição das características peculiares do ecossistema, da sua esparsa fauna, que conta com morcegos, aranhas, grilos e opiliões até a beleza de suas estalactites, estalagmites e colunas que parecem desafiar a gravidade. “Ao longo dos anos cada formação vai ganhando um nome, uma lenda, mas o legal de fazer o passeio é estimular os sentidos e liberar a imaginação” afirma Paulo.

O rio forma piscinas cristalinas dentro das cavernas

Duas horas passam em alguns minutos e o encontro com a mata atlântica, na boca da caverna, é quase um choque.Tudo parece transbordar nos olhos e ouvidos, ainda adaptados ao escuro, lento e ritmado gotejar de dentro da caverna.

“Vale a pena vir aqui e passar dois dias, daí você consegue ver bastante coisa. Isso é, para esse núcleo. Tem muita coisa pra conhecer no PETAR” afirma Paulo, um pouco mais confortável com a idéia de estar sendo gravado.

Monitor e repórter checam a qualidade das gravações na frente de uma coluna

XXI EPELEO

O frio e a garoa na noite de sexta-feira, 18, não desanima o clima de festa no encerramento do XXI Encontro Paulista de Espeleologia (EPELEO) organizado pelo Grupo de Espeleologia da Geologia da USP (GGEO). O encontro, bienal, tem por objetivo principal a confraternização entre os membros da comunidade espeleológica paulista, além da divulgação de dados científicos.

Uma das palestras, ministradas no QG Mangarito

Apresentação da fauna do parque

Ao longo da semana uma série de palestras abordaram temas diversos da espeleologia, como apresentação da fauna do alto ribeira, técnicas de espeleofotografia até a apresentação dos resultados de uma pesquisa com fósseis recém-descobertos nas áreas que margeiam o parque. As oficinas foram apenas uma das atrações da semana que também contou com saídas especiais, visitas monitoradas à áreas e salões das cavernas que normalmente não ficam disponíveis à visitação pública.

No próximo ano, o grupo se reúne novamente, dessa vez no Congresso Brasileiro de Espeleologia, em Bonito-MS. 

Plantio e bolo

Na manhã de sábado, 19, o clima melhorou e o sol apareceu para fechar a semana de comemorações. O plano de manejo, aprovado na última reunião do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), foi apresentado e debatido com funcionários e convidados.

Gerd Sparovekd, presidente da Fundação Florestal, presente na cerimônia, destacou a importância do envolvimento da comunidade com o parque. “São cerca de 300 monitores locais que operam dentro do parque. O município está em sintonia, isso é fundamental. O PETAR é sem dúvida um exemplo para nossas outras Unidades de Conservação”.

Clayton Lino, considerado por muitos como um dos fundadores do parque e atual presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica destacou o histórico do parque:  “A história de luta pela preservação dessa paisagem única data de antes da criação do parque, quando mineradoras e grileiros operavam legal e ilegalmente na região. Ver o parque, hoje com 60 anos, uma unidade de conservação com seu plano de manejo aprovado e, além disso, em sintonia com a população do entorno, que são monitores ambientais e operadoras de turismo, é muito bom. Ver alunos da rede pública aprendendo aqui, em contato com a natureza, é o motivo que faz este local especial, que deve ser visitado e revisitado muitas vezes.”

Os convidados participaram de um plantio na antiga área de camping do parque, que será recuperada com espécies nativas de mata atlântica, como o palmito-juçara. Rodrigo Levkovicz, diretor-executivo da Fundação Florestal e Walter Tesch coordenador da Operação Defesa das Águas da Secretaria do Meio Ambiente estavam entre os convidados que se reuniram no centro de visitantes onde foi servido o tradicional bolo de aniversário.

Um grupo de visitantes, alheio às comemorações, seguia rumo à seu passeio, capacetes e lanternas na cabeça e ouvidos atentos às palavras de seu monitor ambiental, estavam indo para as cavernas, conhecer o verdadeiro PETAR.

Logo na saída das cavernas, a exuberância da mata atlântica

Texto: Fernando Hisi
Fotos: Fernando Hisi, Ingrid Lima e XXI  Epeleo Petar