
29/10/2021
ESG (do inglês Environmental, Social and Governance) é uma tendência para o mercado de restauração ambiental e deve fazer a diferença em resultados a serem alcançados já nesta década e até 2050, com vistas a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
A afirmação foi feita pelo diretor científico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Rafael Loyola, durante o último dia do XIII Encontro Paulista de Biodiversidade (EPBio), que teve como foco aspectos econômicos, sociais e de governança da restauração. O evento anual foi realizado de maneira on-line pela Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade (CFB) da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA).
Para Loyola, a restauração ambiental tem conexão com a agenda da biodiversidade e do clima; esta última, inclusive, será debatida na Conferência das Partes (COP 26), da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que ocorrerá entre o final de outubro e início de novembro em Glasgow (Escócia).
Dados apresentados por ele, provenientes da organização de pesquisa WRI Brasil, projetam que entre os resultados práticos que podem ser obtidos via ESG no Brasil estão: a redução de risco de extinção de espécies, sequestro de carbono, economia no tratamento de água, geração de empregos rurais diretos e aumento do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo o palestrante, além disso, a predisposição para adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança pode gerar uma série de benefícios para o setor privado. “As empresas, ao aderirem ao ESG, passam a ter vantagens competitivas, como melhora da reputação, maior lucratividade, incremento na própria avaliação, o que chamamos de valuation, e na geração de valor para stakeholders e acionistas”, disse Loyola.
Conforme observado pelo painelista, em virtude disso muitas companhias já estão reconfigurando as respectivas ações. “Isso é uma realidade atualmente. A maioria delas já está percebendo uma série de vantagens ao aderir a essa agenda de ESG e está acreditando que, de fato, pode fazer uma grande diferença”.
Demais apresentações
Antonio Borges, de uma empresa especializada na recuperação de áreas degradadas, falou sobre o Ativo Verde, instrumento criado pela SIMA (Res. 48/2020) a partir da sugestão da própria companhia e da organização sem fins lucrativos The Nature Conservancy, que possibilita o investimento privado no restauro florestal, gerando créditos ambientais para a área recuperada, que podem ser comercializados.
Borges apontou que a restauração configura um mercado em plena ascensão, observando que a restauração é tratada como produto comercializável, com ganho de biodiversidade, retorno financeiro e responsabilidade. Ele detalhou ainda que, para ganhos de escala, o desafio é transformar o Ativo Verde em uma moeda, com transparência no processo de restauração, evitando fraudes de sobreposição e geração de segurança jurídica para liquidez.
Daniel Soares, do World Resources Institute (WRI), falou sobre mercado financeiro e restauração, apresentando dados sobre investimentos sustentáveis por região e por classe de ativos, além da evolução da temática a nível global e a projeção de emissão dos Títulos Verdes para a América Latina e Caribe. Quanto a este último assunto, mencionou que a cifra chegou a R$ 15 bilhões em 2021. Ele também apontou desafios para o crédito rural e explanou sobre as finalidades econômicas e não econômicas da restauração, elencando itens importantes na captação de recursos para tal. Ao final, trouxe informações sobre um projeto que tem o objetivo de dar escala à restauração.
Participação do público
Antes do encerramento do evento, os palestrantes debateram conjuntamente e responderam a perguntas da audiência, de outros componentes da mesa e da mediadora, Profa. Cristina Adams, da (EACH e IEE – USP).
Balanço positivo
O coordenador de Fiscalização e Biodiversidade da SIMA, Sergio Marçon, destacou a importância desta edição do Encontro, especialmente do ponto de vista da relação entre as mudanças climáticas e a Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030) da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O EPBio trouxe uma atualização das políticas públicas estaduais, federais e globais acerca desse tema, o que contribui muito para o aprimoramento do nosso trabalho e reflexão, facilitando o alinhamento das atividades cotidianas com as perspectivas mais atuais sobre os temas”.
O representante da Secretaria ainda ressaltou a importância da presença de palestrantes da iniciativa privada nesta edição, que apresentaram um esboço do mercado relacionado à restauração e como monetizar projetos para associar valor a essas ações.
Instabilidade do sistema
Em função de uma instabilidade no sistema, parte das apresentações dos palestrantes não pode ser apresentada ao vivo; mas foi gravada.
Todas as explanações estão integralmente disponíveis no canal da SIMA no Youtube. Para assistir ao terceiro e último dia do EPBio 2021 completo, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=FiKH7ZekxJo