22/10/2021

A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), por meio da Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade (CFB), realizou, em parceria com a Esalq/USP e Embrapa, nesta sexta-feira (22 de outubro), um workshop on-line sobre o monitoramento dos benefícios da implantação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) no estado de São Paulo. Mais de 70 pessoas, entre pesquisadores, técnicos, estudantes e extensionistas, participaram do evento.

Transmitido pelo canal da Secretaria no Youtube, o webinar ainda abordou avaliações econômica e ecológica dos SAFs e o uso de novas tecnologias. Também foram apresentados preliminares que visam contribuir com pesquisas em curso sobre as vantagens dos sistemas, que tratam das formas de manejo e uso da terra, que consorcia árvores ou arbustos com culturas agrícolas, às vezes integrando animais.

A assessora técnica da CFB e responsável pelo Projeto de Monitoramento de SAFs – que é financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO) -, Neide Araújo, falou sobre a importância do workshop. “Ações como essa são especiais no sentido de trocar informações e de fortalecer a rede de pesquisadores e profissionais que trabalham com SAF no estado, uma vez que essa forma de produção ainda é pouco conhecida no Estado e tem potencial muito relevante para proteger e conservar os recursos hídricos e a biodiversidade paulista”.

A representante da Coordenadoria comentou também sobre as vantagens dos SAFs, implantados em SP via Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS). “Os Sistemas Agroflorestais geram diversos ganhos, sociais e ambientais. Além de geração de renda e maior segurança alimentar, a produção agroflorestal contribui com a biodiversidade, melhoria de qualidade dos solos, controle de erosão, redução de uso de água, redução ou eliminação de agroquímicos, com consequente adaptação e mitigação às mudanças climáticas”.

Receitas geradas por meio dos SAFs

Pesquisador da Embrapa Florestas, Marcelo Verde, apresentou dados de monitoramento e avaliação financeira de um agricultor de SAF que possui 0,5 hectare de área no Paraná e que trabalha com o cultivo de hortaliças e frutas (caqui e citrus). No caso mostrado, o custo total foi de R$ 206 mil em aproximadamente 15 anos, sendo 55% investido em mão-de-obra. A receita foi estimada em R$ 696 mil. Dentro desse case, foi possível perceber três ciclos produtivos dos SAFs: da implantação até 3 anos, com receita em torno de R$ 50 mil/ano; o segundo, com a retirada de 50% das hortaliças em função do sombreamento no sistema, gerou receitas – livres de custo – em torno de R$ 25 mil/ano. O terceiro ciclo, de 9 a 15 anos, com o sistema já maduro, registrou receitas líquidas em torno de R$ 11 mil a R$ 12 mil/ano.

Tecnologia

Andrew Miccolis, do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), mostrou experiências de uso de um software que apoia o planejamento, manejo e monitoramento de SAFs, com potencial para registrar e tornar público os avanços em aspectos socioambientais e financeiros ao longo da trajetória dos sistemas. Uma das conclusões apontou que as características e intensidade de manejo são determinantes em se tratando de benefícios ambientais, sociais e econômicos gerados, além da importância da análise integrada dessas dimensões para (re)orientação das estratégias em projetos individuais ou coletivos. Ele destacou também a importância da concepção e monitoramento participativos como chave de sucesso dos SAFs.

Resumo de algumas apresentações

Representante Embrapa Meio Ambiente, Luiz Octavio Ramos Filho pontuou a importância de incluir nas análises de viabilidade as dimensões ecológicas e sociais, evitando o reducionismo de análises meramente financeiras. Destacou questões como o autoconsumo e que   as diárias de trabalho dos membros da família, normalmente consideradas apenas como custo nas análises, devem ser computadas também como fonte de renda familiar. Como estratégia para aumentar a rentabilidade final dos sistemas, observou a importância de desenvolver mercados e pesquisas sobre manejo e pós-colheita das frutíferas nativas e de canais de comercialização mais justos, em circuitos curtos, com preços que valorizem os benefícios socioambientais da produção em SAF.

Já o analista ambiental do ICMBio, Walter Steenbock, mostrou resultados de acompanhamento do primeiro ano e meio de implantação de SAFs no Assentamento Mario Lago, em Ribeirão Preto. O desempenho foi superior ao cultivo convencional em se tratando da evolução do PH de solo, fósforo e carbono, associados a um manejo intensivo de capins como matéria orgânica para canteiros de hortaliças nas entrelinhas dos sistemas. O profissional comparou também resultados superiores ou equivalentes para indicadores de solos e carbono, obtidos em estudos em agroflorestas de 4 a 15 anos, bastante manejadas, em Barra do Turvo, com florestas secundárias vizinhas.  Para densidade de plantas e riqueza de espécies, as agroflorestas mostraram-se mais abundantes.

Em abordagens focadas em estudos de parâmetros ambientais e metodologias de coleta de dados específicos, Jonas Steinfeld, da Wageningen University & Research, apresentou o Projeto Canopies: Medindo a complexidade de SAFs e indicadores de serviços ecossistêmicos, que estuda 30 áreas no estado de São Paulo.

Alguns dados de estudos sobre física de solos e água, realizados em áreas do PDRS, foram apresentados respectivamente por José Luiz Carvalho, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), e Joel Leandro De Queiroga, da Embrapa. Ricardo Gomes Cesar, estudante de pós-doutorado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), contextualizou a importância do SAF diante das projeções para as mudanças climáticas e do mercado de carbono. Vitoria Duarte Derisso, da ESALQ/USP, apresentou novas tecnologias aplicadas em estudos de SAF implantadas no Pontal do Paranapanema.

22Workshop completo 

Para assistir aos painéis, acesse o canal da SIMA no Youtube: https://www.youtube.com/user/ambientesp/videos

PAINEL 1 – Monitoramento e Avaliação de Sistemas Agroflorestais nas Dimensões Econômica e Ecológica: https://youtu.be/dcSYaOKNrDk     

PAINEL 2 – Avaliação e SAFs (Água-Solo e Carbono) e o Uso de Novas Tecnologias de Monitoramento: https://youtu.be/RgJxu_Luvs0