07/03/2018

Maurício Brusadin – Secretário do Meio Ambiente de São Paulo

A resiliência às mudanças climáticas pode ser definida como a capacidade de uma pessoa ou grupo de antecipar, lidar com, resistir e recuperar-se dos impactos de um desastre climático. Esses impactos irão variar de acordo com as possibilidades econômicas, sociais e culturais de uma determinada população ou grupo. Segundo o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima – IPCC, aqueles e aquelas que possuem menos recursos serão os mais atingidos e os que mais dificilmente se adaptarão às consequências dos eventos extremos. São portanto, os mais vulneráveis.

Por um processo histórico cultural de nossa civilização, homens e mulheres são atingidos de formas diferentes pelos problemas socioeconômicos e ambientais. As mulheres e meninas, representam, segundo Relatório do IPCC, em torno de 70% do total de pessoas que vivem em condições de extrema pobreza no mundo, além de sofrerem um problema de discriminação estrutural e uma combinação de outros fatores socioeconômicos e culturais, que as colocam entre as maiores vítimas de desastres provocados por eventos climáticos extremos, como inundações e furacões.

São várias as consequências das mudanças no clima que atingirão os mais pobres em especial e, em particular, as mulheres, como o aumento da incidência de doenças como dengue, malária, hepatite A, cólera, diarreia, leptospirose. Mudança nos padrões de alergia e aumento das doenças respiratórias também são consequências esperadas em virtude destes eventos. A desnutrição tenderá a aumentar com a redução da oferta de alimentos causada por estiagens intensas e excesso de chuvas, alteração das propriedades do solo, entre outros.

Ainda hoje em nossa sociedade, as mulheres possuem menores oportunidades de acessar os recursos materiais e sociais, assim como ocupar cargos de comando e de tomar decisões em assuntos que afetam sua vida e o funcionamento da sociedade. A baixa representação das mulheres na política é outro desafio, uma vez que o enfrentamento às mudanças climáticas envolve também decisões políticas de governos.

Entretanto, os impactos da desigualdade e as recorrentes desvantagens socioeconômicas das mulheres continuam a ser ignoradas e permanecem como um desafio crítico aos esforços de adaptação climática. Para tornar as respostas às mudanças climáticas mais efetivas, é estratégico o enfrentamento ao preconceito e às diferenças socioeconômicas e culturais em relação às mulheres. O acesso à informação, à educação, o compartilhamento de conhecimento e a representatividade das mulheres é fundamental e urgente.