27/03/2018

A Comissão Geográfica e Geológica (CGG), que constitui um dos marcos mais importante das ciências no Estado de São Paulo, completa 132 anos de criação nesta terça-feira. Nascida como “Commissão Geographica e Geologica da Província de São Paulo”, pela Lei nº 9, de 27 de março de 1886, desenvolveu em seus 45 anos de existência, até encerrar as atividades em 1931, as primeiras pesquisas e levantamentos detalhados sobre solo, clima, geomorfologia, geologia e hidrografia do território paulista.

Da mesma forma que a Comissão Geológica do Império, contava com uma equipe multidisciplinar para planejar e executar pesquisas a fim de orientar a ocupação do Estado, que vivia, já na época, um forte crescimento econômico em decorrência a expansão cafeeira.

“Os trabalhos desenvolvidos pela comissão foram de vanguarda, devido ao seu caráter interdisciplinar e científico. Seus estudos são utilizados até hoje para a produção de novos conhecimentos científicos”, diz a diretora-geral do Instituto Geológico (IG), a geógrafa Luciana Martin Rodrigues Ferreira, mestra em Geociências.

Realmente, em sua exposição de motivos para a criação da CGG, encaminhada à Assembleia Legislativa, o Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, presidente da Província de São Paulo, afirma:

“Entre os embaraços com que luta a administração da província para formar um plano geral que atenda às necessidades do seu desenvolvimento e para estudar com segurança as questões que se prendem a este objeto, obstando também à justa ponderação dos cometimentos da iniciativa particular para dilatar o campo das explorações industriais e agrícolas, avulta a ausência de informações exatas e minuciosas sobre a geografia, relevo, solo, vias de comunicação, estrutura geológica, riqueza mineral e caráter das diversas qualidades de terras.”

Essa informação consta do livro Pesquisando São Paulo – 110 Anos de Criação da Comissão Geográfica e Geológica, editada em 1996. Trata-se de uma publicação conjunta do Instituto Geológico, Instituto Florestal e Museu Paulista, para marcar os 110 anos da CGG.

É exatamente isso que a diretora-geral do Instituto Geológico aponta: “O grande feito da comissão foi o reconhecimento do território paulista e sua cartografia: o desbravamento do sertão. Até o surgimento da comissão, o interior do Estado figurava nos mapas imperiais como terras de índios ferozes.”

O primeiro chefe da CGG foi o geólogo americano Orville Adelbert Derby, que ocupava o cargo de diretor da Seção de Mineralogia e Geologia do Museu Nacional. Derby teve como primeiro ajudante o engenheiro Theodoro Fernandes Sampaio, que chefiou a primeira expedição da CGG explorando os rios Itapetininga e Paranapanema.

Em seguida, no dia 10 de abril de 1886, foi contratado o naturalista sueco Alberto Löfgren, que hoje dá o nome ao Horto Florestal, na zona norte da Capital. Löfgren foi o responsável pelos trabalhos relativos aos diversos ramos da História Natural. Outros nomes vieram se agregar à equipe. Entre eles, Antonio A. Lallemant, Luiz Gonzaga de Campos, Eugenio Hussack, Axel Frick, Antonio Lacerda, Francisco Paula de Oliveira e João Frederico Washington de Aguiar.

Como os antigos bandeirantes, os pesquisadores realizaram expedições exploratórias utilizando os rios, cujos meandros eles próprios mapearam, como vias naturais de transporte para iniciar os levantamentos científicos. Os trabalhos que persistiram até 1931 consistem de uma ampla coleção de mapas, relatórios, fotografias e outros documentos, que fazem parte, hoje, do acervo de diversos órgãos e instituições de pesquisa como o Instituto Geológico, de Botânica, Florestal, Geográfico e Cartográfico, Museu Paulista e o Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo. Além disso, grande parte das coleções pertencentes ao Museu Geológico Valdemar Lefèvre, no Parque da Água Branca, foi adquirida ou coletada pela CGG.

E, como explica Luciana Ferreira, enfatizando a comemoração pela passagem dos 132 anos da CGG: “A Comissão Geográfica e Geológica é a gênese do Instituto Geológico, e não apenas do IG, mas também de outras instituições científicas e museológicas como o Museu Paulista, o Instituto Geográfico e Cartográfico, o Instituto Florestal, entre outras”.

Para marcar a data, o Instituto Geológico está organizando uma série de exposições para os próximos meses, contando a importância dos trabalhos desenvolvidos pela CGG, vivendo verdadeiras aventuras, transpondo corredeiras, carregando canoas nas costas e enfrentando ataques dos índios. “Há um projeto para elaboração de um documentário sobre a comissão”, lembra a diretora do IG.

Até o dia 13 de abril, no Arquivo do Estado de São Paulo, pode ser visitada a exposição “Expedição Tietê: registros de usos, ocupação e recuperação”, inspirada em uma expedição da CGG realizada em 1905. Saiba mais

Texto: Newton Miura
Fotos: Acervo IG 

Os integrantes da Comissão: Da esquerda para a direita – em pé: Antonio A. Lallemant, Luiz Gonzaga de Campos, Eugenio Hussack, Axel Frick, Antonio Lacerda, Alberto Löefgren. Sentados: Francisco Paula de Oliveira, Orville A. Derby, Theodoro Sampaio, João Frederico Washington de Aguiar

Confira também o vídeo feito pelo Daniel Rodrigues de França, com a Diretora Substituta do IG, Rosângela do Amaral:

https://www.facebook.com/ambientesp/videos/1922028877816131/