Fachada do museu

28/11/2018

Pintura do início do século XX integra conjunto de três telas com cenas da história paulista

No mês em que se comemoraria os 140 anos de Octávio Vecchi (22/11/1878-9/01/1932), criador do Museu Florestal que leva seu nome, será entregue o restauro da pintura de Helio Seelinger retratando a chegada de Martin Afonso de Souza no litoral de São Vicente, uma das mais antigas da instituição, localizada no Instituto Florestal de São Paulo. Com um acervo constituído principalmente de objetos e móveis de madeira; peças em charão (técnica semelhante à laca) e xilogravura, além do mostruário de folhas, frutos e sementes reproduzidas em pranchas da própria madeira das árvores que representam, o museu inclui também outras atrações.  Entre elas se destacam algumas pinturas com cenas representativas da história ou da flora paulista, como é o caso da tela restaurada.

O trabalho realizado ao longo de 2018 recupera parte da obra com um total de 7 x 4 metros, da qual fazem parte também as telas “Fernão Dias”, retratando o bandeirante em ação, e “São Paulo”, com seus os primeiros arranha-céus, executadas entre 1928 e 29. O projeto foi viabilizado a partir da parceria entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente; o Instituto Florestal, responsável pela gestão do museu; o Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) e seu Núcleo de Artes, Conservação e Restauração (NAR). A coordenação do trabalho ficou a cargo da professora Josy Morais e dos alunos do Curso de Restauração de Pinturas sobre Cavalete, do MAS.

Com 3,90 metros de altura e 1,80 metros de largura, a tela restaurada não foi retirada da área onde o tríptico está instalado o que permitiu que o público acompanhasse as diferentes etapas do trabalho, uma prática classificada como “restauro aberto”, procedimento comum nos grandes museus da Europa, mas que só agora foi introduzida no Brasil. O termo “restauro sobre cavaletes”, por sua vez, indica que o quadro foi retirado da parede e colocado em uma base para facilitar o trabalho dos técnicos. Para que isso pudesse ser feito, foi construída uma bancada de madeira com mais de quatro metros, pela equipe de carpinteiros da marcenaria mantida na Floresta de Manduri, outra unidade que faz parte do Sistema Ambiental Paulista.

tela deitada em cavalete para restauro

Restauro sobre o cavalete

A participação de diferentes áreas e profissionais, com envolvimento direto de funcionários do sistema, aliás, foi um destaque nesse projeto, que contou com a colaboração de Sandra Florsheim, por exemplo, pesquisadora científica do IF, chefe da sessão de madeira e curadora da xiloteca, na orientação para a identificação do material que compõe o chassis do quadro.  A empolgação com o trabalho levou inclusive alguns funcionários a se interessarem pelo curso,  como aconteceu com Natália Ferreira de Almeida, responsável pelo expediente do Museu Octávio Vecchi. Outro que participou ativamente do trabalho, Paulo Muzio, do Serviço de Comunicações Técnico-científicas, aproveitou para fazer o registro de algumas sessões do restauro aberto que acompanhou, além de prestar informações e esclarecimentos para o público que teve a oportunidade de assistir algumas etapas do trabalho nos fins de semana em que se realizavam as atividades. A interação com o público também é destacada pela diretora do Serviço de Comunicações Técnico-científicas, Leni Ribeiro Lima, outra funcionária que aderiu ao curso e participou da restauração da tela. Segundo ela, essa foi a primeira vez que o Museu realizou esse tipo de trabalho permitindo o acesso aos frequentadores, não sendo prática comum nos museus brasileiros.

O projeto é descrito como “parte do estímulo a ações de reconhecimento e preservação do museu”. Mas a conjugação de esforços e a determinação em realizar o trabalho que viabilizou essa parte do restauro, não contou com recursos públicos, embora um orçamento inicial indicasse um custo de R$ 160 mil. Equipamentos especiais, solventes, tintas, tecidos, além da mão de obra especializada, tudo foi obtido através dos próprios integrantes da equipe que participou diretamente de sua realização. Por isso mesmo, ainda não é possível garantir se haverá continuidade do trabalho nas outras duas telas que fazem parte da obra, embora também precisem de restauração. A principal e maior delas, “Fernão Dias”, que ocupa o centro do tríptico, por exemplo, apresenta um pequeno rasgo em uma de suas extremidades.

Funcionário aponta para área da imagem que precisa de restauro

Parte danificada da tela central

Todo o conjunto sofre com a ação do tempo, que afeta as cores originais e apresenta algumas falhas ou descamação da tinta, que o olhar atento dos restauradores consegue identificar. O exame minucioso do quadro também permite detectar algumas intervenções anteriores, nem sempre feitas com o apuro das técnicas atuais. Um dos cuidados na restauração realizada agora foi utilizar um tipo de tinta removível, o que permite sua retirada e a identificação de camadas colocadas após o trabalho do artista.

Algumas curiosidades também merecem ser registradas. O uso de luz ultravioleta, por exemplo, trouxe a descoberta da técnica de quadriculamento da tela, antes do início da pintura, certamente para garantir as proporções corretas das figuras desenhadas inicialmente em tamanho menor do que o quadro exibe.  O tamanho da obra também parece ter sido alterado, como indicam as dobras da tela sobre o chassi, escondendo cerca de 10 centímetros da pintura original.

Brasileiro de origem alemã, Helio Seelinger (1878-1965) ficou conhecido por seu estilo simbolista, aprimorado nos anos que estudou na Europa e foi aluno dos mesmos mestres de artistas como Paul Klee e Vassily Kandisk. Suas obras fazem parte de acervos importantes como o da coleção do Banco Itaú, da Pinacoteca de São Paulo e do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde se encontra outro tríptico de sua autoria, “Minha Terra”, composto pelos quadros ”Descobrimento”, “Independência” e “República”.

A inauguração do painel restaurado, com a presença do Secretário Estadual do Meio Ambiente, Eduardo Trani, acontece no dia 30 de novembro (sexta-feira), às 10 horas, no Museu Florestal Octávio Vecchi, na Rua do Horto, 931 – Horto Florestal.

Texto: Eli Serenza

 Fotos: José Jorge 

Funcionária ao lado do quadro, mostrando área quadriculada

Natália Ferreira mostra o quadriculamento da tela

Fachada do museu

28/11/2018

Pintura do início do século XX integra conjunto de três telas com cenas da história paulista

No mês em que se comemoraria os 140 anos de Octávio Vecchi (22/11/1878-9/01/1932), criador do Museu Florestal que leva seu nome, será entregue o restauro da pintura de Helio Seelinger retratando a chegada de Martin Afonso de Souza no litoral de São Vicente, uma das mais antigas da instituição, localizada no Instituto Florestal de São Paulo. Com um acervo constituído principalmente de objetos e móveis de madeira; peças em charão (técnica semelhante à laca) e xilogravura, além do mostruário de folhas, frutos e sementes reproduzidas em pranchas da própria madeira das árvores que representam, o museu inclui também outras atrações.  Entre elas se destacam algumas pinturas com cenas representativas da história ou da flora paulista, como é o caso da tela restaurada.

O trabalho realizado ao longo de 2018 recupera parte da obra com um total de 7 x 4 metros, da qual fazem parte também as telas “Fernão Dias”, retratando o bandeirante em ação, e “São Paulo”, com seus os primeiros arranha-céus, executadas entre 1928 e 29. O projeto foi viabilizado a partir da parceria entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente; o Instituto Florestal, responsável pela gestão do museu; o Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) e seu Núcleo de Artes, Conservação e Restauração (NAR). A coordenação do trabalho ficou a cargo da professora Josy Morais e dos alunos do Curso de Restauração de Pinturas sobre Cavalete, do MAS.

Com 3,90 metros de altura e 1,80 metros de largura, a tela restaurada não foi retirada da área onde o tríptico está instalado o que permitiu que o público acompanhasse as diferentes etapas do trabalho, uma prática classificada como “restauro aberto”, procedimento comum nos grandes museus da Europa, mas que só agora foi introduzida no Brasil. O termo “restauro sobre cavaletes”, por sua vez, indica que o quadro foi retirado da parede e colocado em uma base para facilitar o trabalho dos técnicos. Para que isso pudesse ser feito, foi construída uma bancada de madeira com mais de quatro metros, pela equipe de carpinteiros da marcenaria mantida na Floresta de Manduri, outra unidade que faz parte do Sistema Ambiental Paulista.

tela deitada em cavalete para restauro

Restauro sobre o cavalete

A participação de diferentes áreas e profissionais, com envolvimento direto de funcionários do sistema, aliás, foi um destaque nesse projeto, que contou com a colaboração de Sandra Florsheim, por exemplo, pesquisadora científica do IF, chefe da sessão de madeira e curadora da xiloteca, na orientação para a identificação do material que compõe o chassis do quadro.  A empolgação com o trabalho levou inclusive alguns funcionários a se interessarem pelo curso,  como aconteceu com Natália Ferreira de Almeida, responsável pelo expediente do Museu Octávio Vecchi. Outro que participou ativamente do trabalho, Paulo Muzio, do Serviço de Comunicações Técnico-científicas, aproveitou para fazer o registro de algumas sessões do restauro aberto que acompanhou, além de prestar informações e esclarecimentos para o público que teve a oportunidade de assistir algumas etapas do trabalho nos fins de semana em que se realizavam as atividades. A interação com o público também é destacada pela diretora do Serviço de Comunicações Técnico-científicas, Leni Ribeiro Lima, outra funcionária que aderiu ao curso e participou da restauração da tela. Segundo ela, essa foi a primeira vez que o Museu realizou esse tipo de trabalho permitindo o acesso aos frequentadores, não sendo prática comum nos museus brasileiros.

O projeto é descrito como “parte do estímulo a ações de reconhecimento e preservação do museu”. Mas a conjugação de esforços e a determinação em realizar o trabalho que viabilizou essa parte do restauro, não contou com recursos públicos, embora um orçamento inicial indicasse um custo de R$ 160 mil. Equipamentos especiais, solventes, tintas, tecidos, além da mão de obra especializada, tudo foi obtido através dos próprios integrantes da equipe que participou diretamente de sua realização. Por isso mesmo, ainda não é possível garantir se haverá continuidade do trabalho nas outras duas telas que fazem parte da obra, embora também precisem de restauração. A principal e maior delas, “Fernão Dias”, que ocupa o centro do tríptico, por exemplo, apresenta um pequeno rasgo em uma de suas extremidades.

Funcionário aponta para área da imagem que precisa de restauro

Parte danificada da tela central

Todo o conjunto sofre com a ação do tempo, que afeta as cores originais e apresenta algumas falhas ou descamação da tinta, que o olhar atento dos restauradores consegue identificar. O exame minucioso do quadro também permite detectar algumas intervenções anteriores, nem sempre feitas com o apuro das técnicas atuais. Um dos cuidados na restauração realizada agora foi utilizar um tipo de tinta removível, o que permite sua retirada e a identificação de camadas colocadas após o trabalho do artista.

Algumas curiosidades também merecem ser registradas. O uso de luz ultravioleta, por exemplo, trouxe a descoberta da técnica de quadriculamento da tela, antes do início da pintura, certamente para garantir as proporções corretas das figuras desenhadas inicialmente em tamanho menor do que o quadro exibe.  O tamanho da obra também parece ter sido alterado, como indicam as dobras da tela sobre o chassi, escondendo cerca de 10 centímetros da pintura original.

Brasileiro de origem alemã, Helio Seelinger (1878-1965) ficou conhecido por seu estilo simbolista, aprimorado nos anos que estudou na Europa e foi aluno dos mesmos mestres de artistas como Paul Klee e Vassily Kandisk. Suas obras fazem parte de acervos importantes como o da coleção do Banco Itaú, da Pinacoteca de São Paulo e do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde se encontra outro tríptico de sua autoria, “Minha Terra”, composto pelos quadros ”Descobrimento”, “Independência” e “República”.

A inauguração do painel restaurado, com a presença do Secretário Estadual do Meio Ambiente, Eduardo Trani, acontece no dia 30 de novembro (sexta-feira), às 10 horas, no Museu Florestal Octávio Vecchi, na Rua do Horto, 931 – Horto Florestal.

Texto: Eli Serenza

 Fotos: José Jorge 

Funcionária ao lado do quadro, mostrando área quadriculada

Natália Ferreira mostra o quadriculamento da tela