Ao redor do mundo, a grande maioria das cidades foi construída com a canalização dos cursos d’água doce encontrados no caminho da urbanização. Em muitas, no entanto, isso foi feito com integração à paisagem, ao garantir resiliência às mudanças climáticas. Alguns destes exemplos foram abordados no documentário “Rios Perdidos” (2012), exibido em evento realizado na sede da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) nesta terça-feira (7).

A produção canadense aborda cursos d’água escondidos e enterrados em grandes centros urbanos – Londres (Inglaterra), Yonkers (EUA), Brescia (Itália), Seul (Coreia) e Montreal (Canadá) – em alguns casos há centenas de anos, e a revitalização às quais alguns foram submetidos, com destaque para a forma como mudaram o olhar das pessoas e seus costumes, trazendo bem-estar e vida às cidades retratadas.

A apresentação, realizada em parceria com a Mostra Ecofalante de Cinema, foi seguida de um debate entre especialistas, que se distribuíram paralelamente entre as cidades retratadas no filme e na realidade de São Paulo. Também construída em uma área com várias várzeas aterradas e riachos correndo em galerias sob ruas (a exemplo das avenidas 9 de Julho, Pacaembu, Sumaré e mais de 300 rios que cruzam a capital), São Paulo tem recebido atenção especial nesse campo para recuperar rios, diminuir os efeitos de enchentes e preparar o maior centro urbano do hemisfério sul para eventos climáticos extremos, como o da última sexta-feira.

Convidado pela Semil, o arquiteto e urbanista José Bueno, cofundador do movimento Rios e Ruas, promove caminhadas, pedaladas, expedições e até blocos de carnaval para conhecer as microbacias urbanas escondidas pelo asfalto e pelo concreto de São Paulo. Bueno associou a exibição ao incentivo a uma nova cultura de convivência com a água. “É preciso entendê-la como elemento fundamental para a qualidade de vida e para estabelecer novos parâmetros de saudabilidade nas grandes cidades”, avaliou. “A engenharia que nos trouxe aqui não vai nos levar adiante, precisamos de outra, que entenda a natureza, seja mais ligada à permacultura, etc. É uma mudança cultural, o rio tem que deixar de ser problema para ser solução”, afirmou.

Nesse sentido, José Eduardo Bevilacqua, da Diretoria de Avaliação de Impacto Ambiental da Cetesb, apresentou, em seguida, o IntegraTietê, que mantém ações na capital e, progressivamente nos municípios na bacia hidrográfica. O programa prevê, por parte da Sabesp, o incremento de 1,56 milhão de pontos de coleta de esgoto em um processo de restauração do principal rio do Estado. “O IntegraTietê passa a ter um novo indicador da qualidade da água do rio, com monitoramento seguindo um método mais transparente, seguro e preciso, e a partir de 2024 terá 30 pontos de medição contra os atuais 12″, explicou. Bevilacqua destacou, também, as ações de desassoreamento dos trechos críticos do rio, buscando garantir as vazões adequadas principalmente nos períodos das chuvas.

O Programa Rios Vivos, que visa revitalizar as margens e desassorear cursos d’água em todo o Estado, foi apresentado também, junto com a experiência de despoluição do Rio Pinheiros. Luis Henrique Gomes, diretor do Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE, destacou que no biênio 2023-2024 serão recuperados 240 cursos, com investimento de R$ 172 milhões, o maior montante dos últimos anos

Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental

A Ecofalante é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) que atua nas áreas de cultura, educação e sustentabilidade. Além de produzir filmes, documentários e programas de televisão de caráter cultural, educativo e socioambiental, organiza, desde 2012, a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, que já concluiu 12 edições.

Desde janeiro de 2018, são exibidos filmes documentários por meio da parceria firmada entre a Mostra Ecofalante e a Semil. As exibições são seguidas por palestras de especialistas e debate entre os participantes e os convidados.